Pensas que amei essas lágrimas em cachos
A voz abrindo-se no útero das tábuas
As palavras nos ouvidos dourados das folhas
O coração sempre do mesmo lado
E os pregos no lugar dos dedos
As andorinhas ácidas na boca
E o amor de mãe em carne viva
Pensas que fiz uma vénia à múmia do mundo
A latejar de morte
E clamei pela casa desfeita
Num sorriso derrocado
E amei os gestos sem nenhum umbigo
Pensas que exaltei
As coxas da neve
Uma árvore despida
E as moedas de César
A espada que nada sabe da ternura
E os lábios que tudo sabem sobre a espada
Pensas que quis
Toda a brutalidade do homem
A podridão dos seus actos
Toda a alma suja e porca
Neste altar feito de esperança
Íngreme como um luar de Inverno
Quero que saibas ainda hoje que:
Vomito o chão e as suas visceras
Digo à brisa para expurgar o sal
À boca para não saber mais de si
Aos olhos para se envergonharem
Ao corpo para se desfazer nas nuvens
E ao sol que não traga consigo uma cruz
E o teu sangue que seja sempre uma flor a nascer
E a tua dor uma ave que quebre todo o céu rochoso!
manuel feliciano
gostei muito, nunca percas a inspiração.
ResponderEliminarCarla
Manuel Feliciano,
ResponderEliminarO pouco que tive a oportunidade de ler, adorei a forma, o conteúdo, as possiveis mensagens que podem ser interpretadas, o jogo de palavras que a poesia permite e ... como o faz tão bem! Os meus sinceros parabéns e também agradecida pelo seu convite como amiga no facebook, é um grande prazer!
Eu é que agradeço, e sinto-me pequeno ante as suas palavras:)
ResponderEliminarum abraço
manuelfeliciano