Da vida eu não sei nada
Mas este nada é da força das árvores ancestrais
Se as flores não choram
Em mim choraram tudo
Se não sorriem
Em mim sorriram tudo
E a terra meu amor
A terra de que todos temos medo
A terra não nos consome o sorriso
Nem os sonhos
Nem a ternura com que trocamos
Beijos na fonte
E a terra só é fonte e beijos
Um lugar cheio de lugares um não para todo o sim
A vida é o sentir das coisas
A vida dispensa todo o corpo
A vida é sempre que Deus queira
A vida não tem muros que a impeçam
E algemas que a agarrem
Ah maçãs, doces maçãs!
Que morreis para o amor da vida
Na vermelhidão das bocas
Alguém sabe alguma coisa sobre maçãs?
Quando a humidade do sumo procura a língua
E atravessamos todo o rio da eternidade
Alguém as saboreia de facto
E engole a brisa que lambe a ânsia?
Quando serpenteamos lugares com os olhos fechados
E seguimos veredas sem qualquer corpo
No êxtase sagrado dos sentidos
Há uma verdade que nos fala sem boca
E desaguamos nas coisas improváveis
Como se o amor desprenda os ferros
Como se a voz se prolongue
Ai tenho os meus olhos cheios de um grito de luz
De gente cheia de vida
Que a escuridão aborta
A atravessar o dorso da montanha como o sol
E dói
E sabe a dias incontáveis
Ai ânsia do que não morre
É urgente que mos sintas.
manuel feliciano
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