9.12.2010

Depravações em Lisboa

Quem nunca amou uma mulher em Lisboa
Corpo repousado e alma toda de fora
Com cartas de amor escritas nos lábios
E nos olhos duas rolas pousadas em mim
No cio do cheiro das flores de jardins
Quando demos conta estavamos abraçados
E o rio Tejo incendiou-nos em gemidos
Até os desejos ficarem todos em cinzas
Mas aquelas que entraram em autocarros
Musas do além com formas transparentes
Apesar de tudo tomei-as de mãos dadas
Agarrei no corpo e joguei-o aos pobres
E recriei-me todo no mar das suas coxas
Ficamos a só os dois sobre areias brancas
Seus braços eram cobras atadas ao pescoço
Cuspi-lhe o veneno e as rochas chamaram-nos
E os passageiros parece que não viram nada
Eu num passeio somente a olhar os vidros
Daquele autocarro que nem sequer passou.


manuel feliciano

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