9.15.2010

Mundo às avessas

O rio queima-me
o sol molha-me
A lua deixa-me às escuras
As estrelas são barcos
No marulhar das pedras.

Os lençóis espairecem-se
Em nuvens
Gotas que se lambem
Os corpos flutuam
Na imprecisão do mundo
Com caras disfuguradas.

O azul é um trabalhador
Suado numa fábrica
Viver é uma fila de trânsiito
Lento sem retorno
Na alegria da busca
Com sorrisos de condenados
Dos lábios mordendo-se em pó
Irmãos dos cometas e dos astros.

Células em actividade
Refrescam-se em metamorfose
Ergo-me das brasas
Como uma flor de chuva
Cabe-me ser chão
Pedra em palavras
Que pouco ou nada dizem.

Escuto os sons de dentro
Desincorporo-me em vento
Inflamo as sombras
Entro por janelas
Fechadas
Sempre abertas.

Com corpo
Já não corpo
Sou tornado de amor
Imune a passos de enxofre
No fosfato da infância.

Por jardins que ardem gelados
Coxas frescas no basalto
Fora de órbita terrena
Baldio cheio de pássaros
Os anjos silentes pousam-me.


manuel feliciano

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