9.20.2010

Sol em dia de neblinas

Não sei o que é colherem-me nos braços
Foi tão perfeito o dia em que não nasci
Não me esperaram ao fundo de uma rua
Nem reguei o jardim da minha infância
Como quem rega e colhe laranjas no sol
E escuta os braços quentes da minha mãe
Dizendo-me: "filho sai-me da margem".
Onde as águas levam olhares fugidios
Eu escutei a canção que nunca ouvi
E reguei contigo onde não havia chão
E laranjas que nos enchessem de sorrisos
Foi tão perfeito o dia em que não nasci
Mas sei a dor de ter perdido um filho
Sou a abstracção de um erro não parido
Por entre os girassóis de uma placenta
Subi as escadas todas que se me negaram
Eu não quis tragar a metafísica das coisas
E aconcheguei-te a boca quando me pariste.




manuel feliciano

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