Não sou filho de pai nem mãe
Todo o mundo me foi emprestado
Peretença que não pertence
Os dons
A inteligência
A beleza
E todas as coisas materialmente belas
Só são coisas imaterialmente belas
Varas de guarda - chuvas
Ou calçado em ruas desvairado
Os olhos dos gatos prenchem-me todo o vácuo
Há estradas escavadas nas mãos
Sem quaisquer estradas
O rio tem escrito nas uvas
As mulheres de branco
Estaticamente deambulantes
Pela gramática das pernas desgramaticadas
A dissertação
É quando a abelha
Traz a canção sobre a flor
E leva o nectar
Eis tudo o que te quero dizer
Nesta tarde de agosto
Não há nada para fazer
Nada para cumprir
Enquanto o sol
Empresta os ouvidos à areia
E chama toda a semente à morte
Por células de um sorriso vivas
Neste ínico
Neste constante ínicio
de carne perfumada de feridas
Não há nada para fazer
Nada para cumprir Na neve dos pulmões
Senão os braços abertos ao mundo!
manuel feliciano
.
8.26.2011
Se a vida te renega
Se a vida te renega
Renega também tu a vida
Não faças como eu que ama às escondidas
Por medo
Que acredita que as nuvens são o jardim onde te sentas
Em abraços de tréns dissolvidos
Que nunca chegam
Ahhhhhhhh não grites para que te acudam por pena
Nem sorrias tão pouco por piedade
A vida não te cobra!
Vai por canas de vento sem raízes
Deixa as raízes para os meus olhos
Enviesados na tua talha
Numa torre de papel descrentes
Porque eu só sonho
Da dimensão de orgasmos entre folhas
A atravessar os músculos dormentes
E não creio
Como quem puxa pelos teus cabelos
E te leva a uma boca que te mostra o mundo
Por este fim continuo
De pedras e horizonte
Ahhhhhhhh não faças como eu
Que vai às peras verdes na angúsita de sargaços
Por demência
Ao dorso dos corpos no sol sem bússola
Só de te pensar ausente
Tão perto dos lábios
Morre, morre verdadeiramente
Talvez seja aí que tu respires
Que as estrelas regenerem o vácuo Das bocas ardentes sem sílabas
Nos versos da terra
Nos troncos trémulos de madeira viva
No respirar masturbante dos teus dedos
A estremecer em correntes de espasmos
Da cor da carne
Que despertam as flores para o cio
Na urna da tua boca
Não como eu!
Suspiro húmido de prata e cinza
Que nem morre
Que nem vive!
Árvore de areia
ideia de só ter sido
alguma coisa que não magoasse
Ah morre, morre, morre, se é a vida que tu esperas!
Real e tocável
Da espessura atordoada da bolina de arfares
Enquanto eu só sou as ancas geladas
De um fogo tão de pedra
Natureza por criar!
manuel feliciano
Renega também tu a vida
Não faças como eu que ama às escondidas
Por medo
Que acredita que as nuvens são o jardim onde te sentas
Em abraços de tréns dissolvidos
Que nunca chegam
Ahhhhhhhh não grites para que te acudam por pena
Nem sorrias tão pouco por piedade
A vida não te cobra!
Vai por canas de vento sem raízes
Deixa as raízes para os meus olhos
Enviesados na tua talha
Numa torre de papel descrentes
Porque eu só sonho
Da dimensão de orgasmos entre folhas
A atravessar os músculos dormentes
E não creio
Como quem puxa pelos teus cabelos
E te leva a uma boca que te mostra o mundo
Por este fim continuo
De pedras e horizonte
Ahhhhhhhh não faças como eu
Que vai às peras verdes na angúsita de sargaços
Por demência
Ao dorso dos corpos no sol sem bússola
Só de te pensar ausente
Tão perto dos lábios
Morre, morre verdadeiramente
Talvez seja aí que tu respires
Que as estrelas regenerem o vácuo Das bocas ardentes sem sílabas
Nos versos da terra
Nos troncos trémulos de madeira viva
No respirar masturbante dos teus dedos
A estremecer em correntes de espasmos
Da cor da carne
Que despertam as flores para o cio
Na urna da tua boca
Não como eu!
Suspiro húmido de prata e cinza
Que nem morre
Que nem vive!
Árvore de areia
ideia de só ter sido
alguma coisa que não magoasse
Ah morre, morre, morre, se é a vida que tu esperas!
Real e tocável
Da espessura atordoada da bolina de arfares
Enquanto eu só sou as ancas geladas
De um fogo tão de pedra
Natureza por criar!
manuel feliciano
8.22.2011
Não quero nada
Não quero nada
Nada
Com a força da luz
E dos músculos da chuva
A esventrar os sonhos
Com a tua mão ainda seca
Não propensa ao dia
Os meus ideais
Os meus anseios
Nódulos de madeira
Onde te geras
Em trémulo vestido
A escorrer nos ramos
Ahhhhhh senhor do mundo
São um candeeiro
Feito de terra
Brisa por cavar
Os olhos adormecidos
Que te vêem com sangue
Pó invertebrado do colo
Ahhhh, ninho que me acolhe
Que me enche de ti
Num mar de fagulhas
Tudo que sou e quero
Cheio de tua carícia
Ahh, não quero nada, nada
Com a tua voz dentro da urze
E a noite amadurecer na carne
A água no ciclo do sono
Da larva à borboleta!
manuel feliciano
.
Nada
Com a força da luz
E dos músculos da chuva
A esventrar os sonhos
Com a tua mão ainda seca
Não propensa ao dia
Os meus ideais
Os meus anseios
Nódulos de madeira
Onde te geras
Em trémulo vestido
A escorrer nos ramos
Ahhhhhh senhor do mundo
São um candeeiro
Feito de terra
Brisa por cavar
Os olhos adormecidos
Que te vêem com sangue
Pó invertebrado do colo
Ahhhh, ninho que me acolhe
Que me enche de ti
Num mar de fagulhas
Tudo que sou e quero
Cheio de tua carícia
Ahh, não quero nada, nada
Com a tua voz dentro da urze
E a noite amadurecer na carne
A água no ciclo do sono
Da larva à borboleta!
manuel feliciano
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8.15.2011
Limbo das abelhas
Quero que me dês os teus ombros quentes
Do cantar dos pássaros
O teu amor folha de madeira rosa
As horas que não se vêem
Na fundura da pele
E o amanhecer
No hálito dos teus cabelos
Quero que sejas A minha única noite plena de mistério
No luar dos seios
O teu olhar a sibilar na chuva
Dorso do meu dorso
A verdadeira campa
De flores de saliva
Desenhadas no côncavo das bocas
Florestas de âmbar no colo de estrelas
Ah se um dia os bichos inauguarem o nosso corpo
É porque nós já não estamos
No limbo de abelhas
Na navalha do polén
É de cabelos brancos
E de morte
Quando me beijas
Com o atrito das faces
Fonte que arde
Porque nós
Somos das hastes de névoas
Dos arcordes intimos da brisa
O esterno da loucura
Paisagem demorada
O barro por gemer
No tanto que as cabras pastam!
manuel feliciano
.
Do cantar dos pássaros
O teu amor folha de madeira rosa
As horas que não se vêem
Na fundura da pele
E o amanhecer
No hálito dos teus cabelos
Quero que sejas A minha única noite plena de mistério
No luar dos seios
O teu olhar a sibilar na chuva
Dorso do meu dorso
A verdadeira campa
De flores de saliva
Desenhadas no côncavo das bocas
Florestas de âmbar no colo de estrelas
Ah se um dia os bichos inauguarem o nosso corpo
É porque nós já não estamos
No limbo de abelhas
Na navalha do polén
É de cabelos brancos
E de morte
Quando me beijas
Com o atrito das faces
Fonte que arde
Porque nós
Somos das hastes de névoas
Dos arcordes intimos da brisa
O esterno da loucura
Paisagem demorada
O barro por gemer
No tanto que as cabras pastam!
manuel feliciano
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8.11.2011
Vou pelo vazio do mundo
Vou pelo vazio do mundo
Da cor dos teus sapatos verdes
E dos teus olhos
Pousados na minha garganta
Colhido pelo teu abraço
O teu colo afogado nas varas da minha voz
Na rotação de guarda-chuvas
E as tuas mãos a acordar
A inércia dos músculos
Por caminhos e sinais em branco
Que despem toda a carne
Ah quem me dera que o sol
Entrasse pelos meus poros
E tu fosses sequer a sombra
De um jardim com o teu cheiro
E a tua boca um rio que me afogasse
Talvez assim eu encontrasse a noite
Talvez assim eu visse as estrelas
E os caminhos
Os caminhos a latejar de ervas
Ahhhhhhhhh, mas nem isso
Pudesse eu ao menos acordar deste sono
Para me conhecer! E os teus cabelos bombeassem
Água nos meus lábios com toda a sede
Para eu ver com beleza a tua exactidão
Os ângulos insolúveis dos beijos.
manuel feliciano
.
Da cor dos teus sapatos verdes
E dos teus olhos
Pousados na minha garganta
Colhido pelo teu abraço
O teu colo afogado nas varas da minha voz
Na rotação de guarda-chuvas
E as tuas mãos a acordar
A inércia dos músculos
Por caminhos e sinais em branco
Que despem toda a carne
Ah quem me dera que o sol
Entrasse pelos meus poros
E tu fosses sequer a sombra
De um jardim com o teu cheiro
E a tua boca um rio que me afogasse
Talvez assim eu encontrasse a noite
Talvez assim eu visse as estrelas
E os caminhos
Os caminhos a latejar de ervas
Ahhhhhhhhh, mas nem isso
Pudesse eu ao menos acordar deste sono
Para me conhecer! E os teus cabelos bombeassem
Água nos meus lábios com toda a sede
Para eu ver com beleza a tua exactidão
Os ângulos insolúveis dos beijos.
manuel feliciano
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7.27.2011
Verão quente
Quero-te mais que a pele do teu corpo
Que o céu quer às estrelas
E é só isso que quero que seja a morte
Sono dinâmico do beijo
O meu amor extremo de outro corpo!
Ah se soubesses como te amar
É ter todos os caminhos sem caminhos
É não conhecer mais o fim
Só o das palavras
Que se alongam
Em raízes de barcos
E não mais se desfazem
Em faces na chuva
Ah se soubesses como tu e eu
Somos o céu
E o que fica para além
Que arranhas com as unhas
Ainda todas por sentir
Sempre por sentir
E já se sentem
Bordadas ao pescoço
Como é belo este assombro
De corda de violão que se estica
Do bico à asa
Do céu ao bico
Neste verão escorrendo em primavera
Com uvas doces cheias do teu grito.
manuel feliciano
.
Que o céu quer às estrelas
E é só isso que quero que seja a morte
Sono dinâmico do beijo
O meu amor extremo de outro corpo!
Ah se soubesses como te amar
É ter todos os caminhos sem caminhos
É não conhecer mais o fim
Só o das palavras
Que se alongam
Em raízes de barcos
E não mais se desfazem
Em faces na chuva
Ah se soubesses como tu e eu
Somos o céu
E o que fica para além
Que arranhas com as unhas
Ainda todas por sentir
Sempre por sentir
E já se sentem
Bordadas ao pescoço
Como é belo este assombro
De corda de violão que se estica
Do bico à asa
Do céu ao bico
Neste verão escorrendo em primavera
Com uvas doces cheias do teu grito.
manuel feliciano
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7.20.2011
Seios
Os teus seios, ai os teus seios
Redondos como a alma humana
Silenciosos da cor dos gemidos
Braçada de mar nos olhos
Curvos com toda a extensão
Escrevem nas lascas dos lábios
A mudez a arder de gozo
E enquanto morro é vale vivo
E enquanto vivo procuro o vale
E as palavras curvas
E os beijos curvos
Que voltam ao mesmo ponto
Ao mesmo olhar
Feito de coxas macias
Qual timbre da chuva na cara
Qual sol a beliscar o arvoredo
É quando a terra deixa de existir
Nos teus seios de ardósia e uvas!
manuel feliciano
Redondos como a alma humana
Silenciosos da cor dos gemidos
Braçada de mar nos olhos
Curvos com toda a extensão
Escrevem nas lascas dos lábios
A mudez a arder de gozo
E enquanto morro é vale vivo
E enquanto vivo procuro o vale
E as palavras curvas
E os beijos curvos
Que voltam ao mesmo ponto
Ao mesmo olhar
Feito de coxas macias
Qual timbre da chuva na cara
Qual sol a beliscar o arvoredo
É quando a terra deixa de existir
Nos teus seios de ardósia e uvas!
manuel feliciano
7.09.2011
Poema do desconhecido
Nas entranhas das uvas em videiras
Alagando o vale da minha alma
Eram de água as pedras nas raízes
Os esteios pontos onde se cruzam
Os olhos que poderiam ser só terra
A terra que poderia ser só sombra
Mas eu crepintando, na folhagem
Entre os arames das ramadas
sou mesmo se a luz não tem mar
sou mesmo se a chuva não tem mais carne
Porque os castelos são de fumo
E o fumo é de terra
E a terra o coração
Ah como as videiras choram e as lágrimas não são suas
E gritam por uma casa envolta num mistério
Uma boca dourada que lhes beba o sangue
Ah mémoria de um impulso que reencarnou um corpo
Por uma morte que nunca aconteceu
Porque já aconteceu e ainda está tudo vivo
O mundo é surreal como todas as paredes
Paredes que são vácuas
Mas são paredes
Estrelas que não têm luz
E luzem
Olhos com cataratas que vêem
Ah materialidade imaterial dos gestos e das coisas
Do que se aperta e desaperta
Projecção elástica de estar vivo
A morte é agora quando abres as asas
E a brisa cardíaca inaugura todo o corpo!
O corrimão que não quer saber das mãos
Cadáver musical de uvas
Por entre a clave dos dentes!
manuel feliciano
Alagando o vale da minha alma
Eram de água as pedras nas raízes
Os esteios pontos onde se cruzam
Os olhos que poderiam ser só terra
A terra que poderia ser só sombra
Mas eu crepintando, na folhagem
Entre os arames das ramadas
sou mesmo se a luz não tem mar
sou mesmo se a chuva não tem mais carne
Porque os castelos são de fumo
E o fumo é de terra
E a terra o coração
Ah como as videiras choram e as lágrimas não são suas
E gritam por uma casa envolta num mistério
Uma boca dourada que lhes beba o sangue
Ah mémoria de um impulso que reencarnou um corpo
Por uma morte que nunca aconteceu
Porque já aconteceu e ainda está tudo vivo
O mundo é surreal como todas as paredes
Paredes que são vácuas
Mas são paredes
Estrelas que não têm luz
E luzem
Olhos com cataratas que vêem
Ah materialidade imaterial dos gestos e das coisas
Do que se aperta e desaperta
Projecção elástica de estar vivo
A morte é agora quando abres as asas
E a brisa cardíaca inaugura todo o corpo!
O corrimão que não quer saber das mãos
Cadáver musical de uvas
Por entre a clave dos dentes!
manuel feliciano
7.07.2011
Estás à espera de que?
Estás à espera de que?
O chão é feito de ar
E o sol é feito de chuva
Olha o rio que corre na árvore
Mesmo com as raízes presas
E o rosto quente na neve
Mar que é mar sabe a beijo
Beijo que é beijo sabe a sal
E nós somos tudo isto
Mas tu prende-me
Prende-me
Com as cordas da tua voz
Com que o amor é feito
E colhe-me em amoras nas nuvens
É aí que os anjos estão
De clamor e céu nessa pele
De aurora e brisa
Carne sem mais forma no explodir de estrelas
Húmidas de saliva
A escorrerem pelo tronco
Lâmpada incandescente
Estás à espera de que?
Que os anjos vivam por nós?
Faz dos teus olhos a ponte
É hora de trocarmos palavras
Com cheiro a púbis florida.
manuel feliciano
.
O chão é feito de ar
E o sol é feito de chuva
Olha o rio que corre na árvore
Mesmo com as raízes presas
E o rosto quente na neve
Mar que é mar sabe a beijo
Beijo que é beijo sabe a sal
E nós somos tudo isto
Mas tu prende-me
Prende-me
Com as cordas da tua voz
Com que o amor é feito
E colhe-me em amoras nas nuvens
É aí que os anjos estão
De clamor e céu nessa pele
De aurora e brisa
Carne sem mais forma no explodir de estrelas
Húmidas de saliva
A escorrerem pelo tronco
Lâmpada incandescente
Estás à espera de que?
Que os anjos vivam por nós?
Faz dos teus olhos a ponte
É hora de trocarmos palavras
Com cheiro a púbis florida.
manuel feliciano
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7.02.2011
Pelvis
Ouvia-se uma árvore estranha numa nuvem
Depois a nuvem despiu-se como uma mulher na chuva
A terra toda seca alagou-se
E o pássaro abriu os gomos secos
Na pelvis da terra
A cheirar a carne
E um grito cor de laranja
Relampejou
Entre os braços que já dormiam
Os lábios procuraram-se noutros
Nasceu de uma força mágica
A erva no sorriso
E um silêncio
Mais cortante que a altura das estrelas
Disse-me com raízes de cabelos
Que ser homem
É só metade de si na luz em torno da lua
Num beijo absoluto
É sempre que
Um pássaro transborda a finitude do mar
É Sempre que uma palavra emerge
Nos músculos de outras paredes.
manuel feliciano
Depois a nuvem despiu-se como uma mulher na chuva
A terra toda seca alagou-se
E o pássaro abriu os gomos secos
Na pelvis da terra
A cheirar a carne
E um grito cor de laranja
Relampejou
Entre os braços que já dormiam
Os lábios procuraram-se noutros
Nasceu de uma força mágica
A erva no sorriso
E um silêncio
Mais cortante que a altura das estrelas
Disse-me com raízes de cabelos
Que ser homem
É só metade de si na luz em torno da lua
Num beijo absoluto
É sempre que
Um pássaro transborda a finitude do mar
É Sempre que uma palavra emerge
Nos músculos de outras paredes.
manuel feliciano
6.27.2011
Ó mar
Ó mar, extensa flor
Inundando as estacas do meu ser
É de ninho e de além este sal
De alma que não segura mais as mãos
De sol toda esta ânsia em roda
Movendo a brisa de madeira
É sempre que te penteias
E me trazes cabelos de ti
Neste chão de areias
Que tanto quer o teu corpo
Bocado de mim que me falta
Boca das minhas coxas
Seios dos meus olhos
São teus ó mar
Carne sem mais fronteira
Onde te despes e sonhas.
manuel feliciano
Inundando as estacas do meu ser
É de ninho e de além este sal
De alma que não segura mais as mãos
De sol toda esta ânsia em roda
Movendo a brisa de madeira
É sempre que te penteias
E me trazes cabelos de ti
Neste chão de areias
Que tanto quer o teu corpo
Bocado de mim que me falta
Boca das minhas coxas
Seios dos meus olhos
São teus ó mar
Carne sem mais fronteira
Onde te despes e sonhas.
manuel feliciano
6.26.2011
Eternidade
A terra louca e húmida dos ombros
É noite envolta com os tons da carne
Palavras feitas com gotas de saliva
Gritam-me os dedos
Com árvores sem sombras
E longas planicies
Que desaguam na tua boca
E a tua boca estende-se
A ilha afunda-se deliciosamente pelas mãos
Em acordes de peixes
Que sabem a sóís enleados nos seios
Eis todo o eixo da terra em movimento
Pedal das minhas pernas
Na minha alma circular
Escuto-me e tu estás dentro
Agora sei que não há trevas neste cântico
A cada batida cardiaca no fundo do mar
Esplêndido de céu
Ao confim do que a estrela sobeja
Não somos mais de cal
Não somos mais de treva
Solta-se um grito
Não sei mais de ti
Nem de mim
Só dos astros
Só da plumagem macia que abriu todas as pálpebras
Como um navio a a romper os nódulos do silêncio
A carne prolonga-se para fora
Agora sei onde acabo e começo
Agora sei que sou só berço
Numa pedra
Numa pedra a burilar
A bater no dorso de água tépida
Que amadureceu todas as coxas
Relâmpago de Aiiiiiiiiiiiiiii
É esse grito, esse grito num coração ininterrupto
Cheio de asas que se abrem
Que se prolongam em dois pedaços
De sorrisos e láminas
Até aos planaltos da brisa
A eternidade que ferve
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Vertigem de quem se afoga todo em ti
Sangue perfumado de abraços
Flor que encendeia todo o sono
De almas em pernas de animais!
manuel feliciano
É noite envolta com os tons da carne
Palavras feitas com gotas de saliva
Gritam-me os dedos
Com árvores sem sombras
E longas planicies
Que desaguam na tua boca
E a tua boca estende-se
A ilha afunda-se deliciosamente pelas mãos
Em acordes de peixes
Que sabem a sóís enleados nos seios
Eis todo o eixo da terra em movimento
Pedal das minhas pernas
Na minha alma circular
Escuto-me e tu estás dentro
Agora sei que não há trevas neste cântico
A cada batida cardiaca no fundo do mar
Esplêndido de céu
Ao confim do que a estrela sobeja
Não somos mais de cal
Não somos mais de treva
Solta-se um grito
Não sei mais de ti
Nem de mim
Só dos astros
Só da plumagem macia que abriu todas as pálpebras
Como um navio a a romper os nódulos do silêncio
A carne prolonga-se para fora
Agora sei onde acabo e começo
Agora sei que sou só berço
Numa pedra
Numa pedra a burilar
A bater no dorso de água tépida
Que amadureceu todas as coxas
Relâmpago de Aiiiiiiiiiiiiiii
É esse grito, esse grito num coração ininterrupto
Cheio de asas que se abrem
Que se prolongam em dois pedaços
De sorrisos e láminas
Até aos planaltos da brisa
A eternidade que ferve
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Vertigem de quem se afoga todo em ti
Sangue perfumado de abraços
Flor que encendeia todo o sono
De almas em pernas de animais!
manuel feliciano
6.21.2011
O longe dos teus cabelos
Não é uma vértebra fendida
O longe dos teus cabelos
Na aura do desejo Rodando no fogo
Meu amor
Preciso que acredites
Que acredites
Que o mar é as tuas mãos
Sem limites Mesmo quando as mãos se fecham
Não há esperança não há esperança
A esperança é um jardim sem flores
E eu estou todo florido
Só certeza
Que eu sou o pó que falta na tua terra
Quando os teus olhos se afundam
Nos brancos pulmões das nuvens
Vejo-te ainda mais perto
Mais por inteiro tudo se pode tocar
O fruto nasce todo para a flor
E Ausência é estrelas no meu cérebro
A cada palavra mordida que não te traz
É sangue a exalar da terra E os rios nascem onde eu quero
O que esperas, o que esperas?
Mas o meu coração lateja na terra
Mas como é de ti a terra é véu
Mas como é de ti a terra mar
Mas como é de ti somos só um
Mas como é de ti só vejo sol
O que esperas, o que esperas?
Olhar-me do alto de um castelo entregares-te toda à chuva?
Desce, desce toda sem medo
Que a vida é atemporal
Desce desce mesmo sem sonhos
Traz o teu sorriso maduro de carne
Que agora é tempo só para amar.
manuel feliciano
O longe dos teus cabelos
Na aura do desejo Rodando no fogo
Meu amor
Preciso que acredites
Que acredites
Que o mar é as tuas mãos
Sem limites Mesmo quando as mãos se fecham
Não há esperança não há esperança
A esperança é um jardim sem flores
E eu estou todo florido
Só certeza
Que eu sou o pó que falta na tua terra
Quando os teus olhos se afundam
Nos brancos pulmões das nuvens
Vejo-te ainda mais perto
Mais por inteiro tudo se pode tocar
O fruto nasce todo para a flor
E Ausência é estrelas no meu cérebro
A cada palavra mordida que não te traz
É sangue a exalar da terra E os rios nascem onde eu quero
O que esperas, o que esperas?
Mas o meu coração lateja na terra
Mas como é de ti a terra é véu
Mas como é de ti a terra mar
Mas como é de ti somos só um
Mas como é de ti só vejo sol
O que esperas, o que esperas?
Olhar-me do alto de um castelo entregares-te toda à chuva?
Desce, desce toda sem medo
Que a vida é atemporal
Desce desce mesmo sem sonhos
Traz o teu sorriso maduro de carne
Que agora é tempo só para amar.
manuel feliciano
6.19.2011
Ali
Hoje sei que ali, cume de pedra
É palavra mole na gruta da boca
Sem pernas e joelhos
Luz abrangente no halo que te veste
De aneis dispersos
Que te Quer
Que te Quer
Que te Quer Toda despida
Até ficares bem grande
E entrares pelos meus olhos adentro
Com os teu braços içados na torrente do espaço
Colhendo-me todo
Voltados p’ra fora
Porque eu não sou refém dos cumes
Oh rostos nauseabundos
Eu não sou refém de nada
Aliás, de nada, de nada, que é nada?
Acordar contigo todo por dentro
E a alma a respirar toda por fora
E levar-te por jardins sem o sol no chão
E ali é o teu corpo inteiro
Quanto me sabe a mar toda esta porta fechada
E os olhos sôfegos de ali
Rodam no sol e transmutam em grito
Porque é só aqui esse teu corpo onde amadureço
Repente de asa e aconchego
Num bico de um pássaro nós dois
Não quero saber mais de cumes só do cheiro, só do cheiro
Que vem de ti
Casa plantada sobre o mar
Infinito
Infinito ah não, deixa-me tocar o infinito
Em delírios que só tu sabes
Que a puta da terra é quadrada!
manuel feliciano
É palavra mole na gruta da boca
Sem pernas e joelhos
Luz abrangente no halo que te veste
De aneis dispersos
Que te Quer
Que te Quer
Que te Quer Toda despida
Até ficares bem grande
E entrares pelos meus olhos adentro
Com os teu braços içados na torrente do espaço
Colhendo-me todo
Voltados p’ra fora
Porque eu não sou refém dos cumes
Oh rostos nauseabundos
Eu não sou refém de nada
Aliás, de nada, de nada, que é nada?
Acordar contigo todo por dentro
E a alma a respirar toda por fora
E levar-te por jardins sem o sol no chão
E ali é o teu corpo inteiro
Quanto me sabe a mar toda esta porta fechada
E os olhos sôfegos de ali
Rodam no sol e transmutam em grito
Porque é só aqui esse teu corpo onde amadureço
Repente de asa e aconchego
Num bico de um pássaro nós dois
Não quero saber mais de cumes só do cheiro, só do cheiro
Que vem de ti
Casa plantada sobre o mar
Infinito
Infinito ah não, deixa-me tocar o infinito
Em delírios que só tu sabes
Que a puta da terra é quadrada!
manuel feliciano
6.16.2011
O céu atrás das costas
Não queiras saber de ti
Deixa que o nevoeiro seja a única palavra e face
Pomar perfumado de seios
Todo por Sentir
Célula que inebria Abraço mergulhado no céu
Nem abras o segredo das árvores
Ouve-o desamparadamente sem ouvidos
Deixa-os a cuidar do mar
Até que o eco seja vogal na rotação do corpo
Rima sem mais areia
Profundamente peixe
Sem o limão nas sílabas
Queres mais coração que este?
A badalar na ampulheta Dos lábios que não se vêem
Húmidos de saliva
Prometo-te que as minhas costas abandonadas
Sem pastores e cabras são o céu
Onde eu te apanho papoilas
Onde tu corres, onde tu corres! Porque é que corres amor?
Sem ancas e estrada!
Descendo tudo para cima
Ah, meu Deus, meu Deus, meu Deus
No caroço que resta é mais além
Ampla é a rosa que não se encontra!
E surge sempre de uma mão estranha!
manuel feliciano
Deixa que o nevoeiro seja a única palavra e face
Pomar perfumado de seios
Todo por Sentir
Célula que inebria Abraço mergulhado no céu
Nem abras o segredo das árvores
Ouve-o desamparadamente sem ouvidos
Deixa-os a cuidar do mar
Até que o eco seja vogal na rotação do corpo
Rima sem mais areia
Profundamente peixe
Sem o limão nas sílabas
Queres mais coração que este?
A badalar na ampulheta Dos lábios que não se vêem
Húmidos de saliva
Prometo-te que as minhas costas abandonadas
Sem pastores e cabras são o céu
Onde eu te apanho papoilas
Onde tu corres, onde tu corres! Porque é que corres amor?
Sem ancas e estrada!
Descendo tudo para cima
Ah, meu Deus, meu Deus, meu Deus
No caroço que resta é mais além
Ampla é a rosa que não se encontra!
E surge sempre de uma mão estranha!
manuel feliciano
6.15.2011
Olha a Lua
Olha a lua, olha a lua, doce amada
Nuvens na paciência
Azul na boca
Tem carne sim, tem carne a lua
Com todo o brilho no mar do céu
E não tropeça sequer nas nuvens
Porque é de rosa o coração.
Lá vai sozinha e às voltas
Como o poeta esta lua
As pernas encravadas só são asas
Escorrendo toda a luz na exaustão
E na escuridão inerte de aço
Supera as loucas fases
O medo e a sombra
Do golpe da faca espetado
No peito ancorado do branco chão
E nem sequer a lua se transfigura
Porque a colheita é só primavera
De riso e choro todo o corpo
Da sobrenatural trasmutação.
Revolve e canta com alegria
O mar dourado dentro do útero
Semente na língua toda para o espaço
Frias as estrelas nas rugas das faces
Na cânfora do gelo a arder na mente
Lambe as frieiras e nunca se esconde
O dias expandem-se na garganta estreita
E vai com o norte e sul aos pedaços
Nos ombros todos na dianteira da proa
Dar as mãos à vida sem nunca olhar morte.
Manuel Feliciano
Nuvens na paciência
Azul na boca
Tem carne sim, tem carne a lua
Com todo o brilho no mar do céu
E não tropeça sequer nas nuvens
Porque é de rosa o coração.
Lá vai sozinha e às voltas
Como o poeta esta lua
As pernas encravadas só são asas
Escorrendo toda a luz na exaustão
E na escuridão inerte de aço
Supera as loucas fases
O medo e a sombra
Do golpe da faca espetado
No peito ancorado do branco chão
E nem sequer a lua se transfigura
Porque a colheita é só primavera
De riso e choro todo o corpo
Da sobrenatural trasmutação.
Revolve e canta com alegria
O mar dourado dentro do útero
Semente na língua toda para o espaço
Frias as estrelas nas rugas das faces
Na cânfora do gelo a arder na mente
Lambe as frieiras e nunca se esconde
O dias expandem-se na garganta estreita
E vai com o norte e sul aos pedaços
Nos ombros todos na dianteira da proa
Dar as mãos à vida sem nunca olhar morte.
Manuel Feliciano
6.14.2011
Vida
Vida? Foda-se[…]
Eu cá quero a morte, que essa ao menos dura
E crava-me o amanhã com uma boca extensa
Com pulmões plenos sem metáfora
E eixos onde roda todo o sangue
Sem assombro
E o amor nasce mesmo sem elemento
Porque eu cá não quero a vida
Na varanda de um cigarro
Cheia de uma saudade lenta
De um beijo que ainda nem dei
E todo ele já roubado.
Porque essa não se perde e é bem alta
Porque essa não abandona e é sincera
Porque essa traz-me sempre no coração
Porque essa não tem saudade e mostra o mar
Porque essa não vem pintada com duas caras
Porque essa não quer a noite Nos olhos ávidos
Porque essa não traz o rio só pelo meio
Porque essa é um Deus que me quer bem
Porque essa é quem rasga todo o mal
Porque essa traz o Sol que é para todos
E morde a puta-dor que traz a vida
Madura nos ramos do coração
A dizer que te ama, que te ama, que te ama...
a vida ama?
O que é a vida, o que é a vida, o que é a vida?
A esperança
A esperança?
Foda-se a esperança e a incerteza
Eu quero caminhar sobre o mar Sem o abismo
Ouviste?
Homem de toda obra e saber
Com ouvidos de ferro
Chupa, chupa e não te enfartes com tudo
E toma com força
A minha morte, a minha morte, que é tão boa!
Única flor que venero
O fim da dor, mãe de tudo, colo que escuta!
Manuel Feliciano
Eu cá quero a morte, que essa ao menos dura
E crava-me o amanhã com uma boca extensa
Com pulmões plenos sem metáfora
E eixos onde roda todo o sangue
Sem assombro
E o amor nasce mesmo sem elemento
Porque eu cá não quero a vida
Na varanda de um cigarro
Cheia de uma saudade lenta
De um beijo que ainda nem dei
E todo ele já roubado.
Porque essa não se perde e é bem alta
Porque essa não abandona e é sincera
Porque essa traz-me sempre no coração
Porque essa não tem saudade e mostra o mar
Porque essa não vem pintada com duas caras
Porque essa não quer a noite Nos olhos ávidos
Porque essa não traz o rio só pelo meio
Porque essa é um Deus que me quer bem
Porque essa é quem rasga todo o mal
Porque essa traz o Sol que é para todos
E morde a puta-dor que traz a vida
Madura nos ramos do coração
A dizer que te ama, que te ama, que te ama...
a vida ama?
O que é a vida, o que é a vida, o que é a vida?
A esperança
A esperança?
Foda-se a esperança e a incerteza
Eu quero caminhar sobre o mar Sem o abismo
Ouviste?
Homem de toda obra e saber
Com ouvidos de ferro
Chupa, chupa e não te enfartes com tudo
E toma com força
A minha morte, a minha morte, que é tão boa!
Única flor que venero
O fim da dor, mãe de tudo, colo que escuta!
Manuel Feliciano
6.11.2011
Pés
Sabes que mais
Sabes que mais
Os teus pés são a minha aldeia florida
Sei que a mémoria desagua nas pedras e nos troncos
E tu tens que estar
Dentro das pedras e dos troncos
Aqui a espera cansa mas não traz a morte
Porque a morte é trazer-te sempre viva
A morte é só quando um homem quer olhá-la de frente
Que me interessa que os rios desaguem nas estrelas
E tu estejas na altura das estrelas
Que me interessa que o mar seja feito desses troncos
Se tu e eu somos feitos disto tudo
A minha aldeia não tem mar
A minha aldeia não tem barcos
Só pedras e árvores floridas
Só silvados cheios de amoras
Na minha voz à margem de um caminho
È sempre um dia a começar à tua procura
Com a certeza que os teus pés são os meus olhos
Com a certeza que os teus pés são a minha alma.
Manuel Feliciano
Sabes que mais
Os teus pés são a minha aldeia florida
Sei que a mémoria desagua nas pedras e nos troncos
E tu tens que estar
Dentro das pedras e dos troncos
Aqui a espera cansa mas não traz a morte
Porque a morte é trazer-te sempre viva
A morte é só quando um homem quer olhá-la de frente
Que me interessa que os rios desaguem nas estrelas
E tu estejas na altura das estrelas
Que me interessa que o mar seja feito desses troncos
Se tu e eu somos feitos disto tudo
A minha aldeia não tem mar
A minha aldeia não tem barcos
Só pedras e árvores floridas
Só silvados cheios de amoras
Na minha voz à margem de um caminho
È sempre um dia a começar à tua procura
Com a certeza que os teus pés são os meus olhos
Com a certeza que os teus pés são a minha alma.
Manuel Feliciano
6.07.2011
Nuvem
Dentro da água e do pó
Peixes enleados nas nuvens
Na areia sobre o céu
E o mar gritando
Pelo seu espaço
E âmago
Era a boca
A desnudar toda a sombra
Imprópria
Que não sabe de nós
Nem dos ramos
Fogo prenhe
Dos nossos olhos em cavidades profundas
Submersas nas bocas das conchas
Onde
Palavras com eco
Batem contra o pescoço das rochas
E as lapas dos olhos
Esses olhos virtiginosos
Que não suspiram
Pernas enleadas
No fogo de Vênus
E vertem todo o sangue
Nesse jardim
De árvores vazias
E bancos calados
Que os meus braços e os teus
Amplos
De colheita
Abundam Contra a inércia dos movimentos Em frutos cristalizados
Na púbis da flor
Polonizada
Feita de nós
Em janelas abertas
Com memória e Gestos
Correndo nas alturas Como um trém de Brisa
Em torno do mundo
De pulmões solares
Entre as raízes trincando todo o gelo
Do silêncio
E homens tão somente eléctricos
Com carvão na voz Um grito abrindo toda a carne
Que a luz entorna
Entre a frescura de auréolas
Em toalhas de trigo
Escorrendo em sorrisos Curvados Os dedos
Por almas em espuma A pele
À bolina do hálito vence a Lámina Que corta
O sonho Envolto Em Êmbolos Sonoros De cordas
Escava e regenera o verbo seco
Que jaz nas entranhas do que não morre!
manuel feliciano
Peixes enleados nas nuvens
Na areia sobre o céu
E o mar gritando
Pelo seu espaço
E âmago
Era a boca
A desnudar toda a sombra
Imprópria
Que não sabe de nós
Nem dos ramos
Fogo prenhe
Dos nossos olhos em cavidades profundas
Submersas nas bocas das conchas
Onde
Palavras com eco
Batem contra o pescoço das rochas
E as lapas dos olhos
Esses olhos virtiginosos
Que não suspiram
Pernas enleadas
No fogo de Vênus
E vertem todo o sangue
Nesse jardim
De árvores vazias
E bancos calados
Que os meus braços e os teus
Amplos
De colheita
Abundam Contra a inércia dos movimentos Em frutos cristalizados
Na púbis da flor
Polonizada
Feita de nós
Em janelas abertas
Com memória e Gestos
Correndo nas alturas Como um trém de Brisa
Em torno do mundo
De pulmões solares
Entre as raízes trincando todo o gelo
Do silêncio
E homens tão somente eléctricos
Com carvão na voz Um grito abrindo toda a carne
Que a luz entorna
Entre a frescura de auréolas
Em toalhas de trigo
Escorrendo em sorrisos Curvados Os dedos
Por almas em espuma A pele
À bolina do hálito vence a Lámina Que corta
O sonho Envolto Em Êmbolos Sonoros De cordas
Escava e regenera o verbo seco
Que jaz nas entranhas do que não morre!
manuel feliciano
6.04.2011
Mar
Esta ausência dolorida de caravelas
Colhe na garganta todo o mar
E o mel todo nos pêssegos
E o sol todo na seiva
Aves em janelas de nuvens
Campos de trigo no céu
E eu e tu no centro
Há quem Como eu os veja
A oriente de tudo
Mesmo por debaixo das pálpebras
E o sal a lamber toda a boca
E o sorriso Marinheiros ao longe
Ao longe
Dizes-me que as flores
Luzem ainda sobre o sódio das faces
E os perigos são gaivotas
No abrigo do céu
E que a ausência somos os dois
De mãos dadas
Terra em líquido céu
Chuva que arde
Quando os braços se desligam
E o mar não abraça a ilha
E o amor é pedra leve...
O mundo estende-se mais além
Da cor do nosso dentro
E dá-se-nos em tudo o que falta.
Manuel Feliciano
Colhe na garganta todo o mar
E o mel todo nos pêssegos
E o sol todo na seiva
Aves em janelas de nuvens
Campos de trigo no céu
E eu e tu no centro
Há quem Como eu os veja
A oriente de tudo
Mesmo por debaixo das pálpebras
E o sal a lamber toda a boca
E o sorriso Marinheiros ao longe
Ao longe
Dizes-me que as flores
Luzem ainda sobre o sódio das faces
E os perigos são gaivotas
No abrigo do céu
E que a ausência somos os dois
De mãos dadas
Terra em líquido céu
Chuva que arde
Quando os braços se desligam
E o mar não abraça a ilha
E o amor é pedra leve...
O mundo estende-se mais além
Da cor do nosso dentro
E dá-se-nos em tudo o que falta.
Manuel Feliciano
5.27.2011
Não é um mar
Um não meu amor
É quando as estrelas brilham já desfeitas
E o sol amadurece no céu de argila
E o branco da folha se faz corpo
Com cheiro a terra
E gritos incendiados na seda do barco
Que desprendem os cadiados da chuva
E as palavras no cardume das nuvens
Em cálices de dedos entornados
Num um não
Que sabe dos teus braços abertos
No orvalho de carvão Vivo Por mistério E lonjura Sem fim
Em vozes a baloiçar nos braços trémulos das ondas
Com unhas que avivam o desejo nas cinzas
Ainda por arder
Sempre por arder
Todo em árvore
Ainda por me ser
Já florido Cheio de frutos
Verde de infância Num pátio com plantas Ao faz de conta
Onde tudo é conta
E a conta é sempre
Que burilas sem pressa
Ai amor, estás-me a doer: É não morte Num mar de trigo dourado
E um banco sempre connosco sem sombra
Em que nos salvaremos
Porque somos loucos
Sem mais nada Que nos afunde
Como um jardim que atravessa a alma E evita o mármore
Aquele dia em que um não me sabe todo à tua pele sem areia
E a apanha é um ai que ainda desconheço
Que me sabe completamente à tua boca em floresta!
manuel feliciano
É quando as estrelas brilham já desfeitas
E o sol amadurece no céu de argila
E o branco da folha se faz corpo
Com cheiro a terra
E gritos incendiados na seda do barco
Que desprendem os cadiados da chuva
E as palavras no cardume das nuvens
Em cálices de dedos entornados
Num um não
Que sabe dos teus braços abertos
No orvalho de carvão Vivo Por mistério E lonjura Sem fim
Em vozes a baloiçar nos braços trémulos das ondas
Com unhas que avivam o desejo nas cinzas
Ainda por arder
Sempre por arder
Todo em árvore
Ainda por me ser
Já florido Cheio de frutos
Verde de infância Num pátio com plantas Ao faz de conta
Onde tudo é conta
E a conta é sempre
Que burilas sem pressa
Ai amor, estás-me a doer: É não morte Num mar de trigo dourado
E um banco sempre connosco sem sombra
Em que nos salvaremos
Porque somos loucos
Sem mais nada Que nos afunde
Como um jardim que atravessa a alma E evita o mármore
Aquele dia em que um não me sabe todo à tua pele sem areia
E a apanha é um ai que ainda desconheço
Que me sabe completamente à tua boca em floresta!
manuel feliciano
5.21.2011
Água
A água corre
Desprendida das formas
E há sol
E árvores líquidas
Que correm
Em palavras, sonhos e seres
A cada gota
Labial
Que diz tudo sem embaraço
E as pedras
Na laringe da água
Árvore
Fruto
Gesto por ser
E mãos cegamente maduras Disfarçadas
Submissas
Inconscientes Velhas
Náufragas no verbo podre de madeira
A adolar o bolor da lúxuria da imagem
Rendido ao pó que unge toda a cabeça
E os pés no mar em toques de piano
A desviar toda a torrente
É a pedra
O próprio homem
Génio da sua sombra
Alma sem propósito
Servo da riqueza
E a água ? A agua não tropeça
A água… ai como dói esta água pura
A cheirar a alfazema
Num colo de carne
A água que vê tudo
A água que ouve tudo
A água que não disfarça Sem assombro
A água que sente rumo às estrelas
Que as próprias mãos não agarram
E chega bem alto porque se basta.
manuel feliciano
Desprendida das formas
E há sol
E árvores líquidas
Que correm
Em palavras, sonhos e seres
A cada gota
Labial
Que diz tudo sem embaraço
E as pedras
Na laringe da água
Árvore
Fruto
Gesto por ser
E mãos cegamente maduras Disfarçadas
Submissas
Inconscientes Velhas
Náufragas no verbo podre de madeira
A adolar o bolor da lúxuria da imagem
Rendido ao pó que unge toda a cabeça
E os pés no mar em toques de piano
A desviar toda a torrente
É a pedra
O próprio homem
Génio da sua sombra
Alma sem propósito
Servo da riqueza
E a água ? A agua não tropeça
A água… ai como dói esta água pura
A cheirar a alfazema
Num colo de carne
A água que vê tudo
A água que ouve tudo
A água que não disfarça Sem assombro
A água que sente rumo às estrelas
Que as próprias mãos não agarram
E chega bem alto porque se basta.
manuel feliciano
5.20.2011
Antagonismo
Esqueci-me de tudo
Como quem trás o mundo em bocados
Com pétalas de aurora
Escuridão em lume
E as tuas mãos arderem-me nas rosas
Do húmus a ser têmporas
O mar na chuva a escorrer-me pelas pálpebras
E eu
Neste vertical branco de juncos
És-me da cabeça
Do tronco
E dos membros
Na física das nuvens
Húmidas de olhares que se trocam
Nos teus cabelos a retorcer-me de brisa
No labirinto do teu pensamento
No teu abraço a crucificar-me
Lembro-me de tudo
Estás cheia de sede
Com um vestido azul a cegar-me os olhos
Mas não te moves
Porque te moves
E aqueces e esfrias comigo
O sol
E eu quero refrescar-te na memória da água
E tu abres a boca
Punhado de luz nas asas que me levam
A um corpo celeste
Fendido de esquecimento´
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh não venhas!
tu vieste sempre àquele
Banco que não precisa de chão
Nem de corpo todo presente
Algures presente
Para quê presente?
Esqueci-me de tudo
Como quem te trás por dentro
O meu esquecimento é uma lembrança ausente
Comestivel como os figos
Do verbo iluminado dentro da tua boca
Que chama por mim Memória salgada com gaivotas
E eu procuro-te nas algas
E no que não há a oriente das faces Tudo com a força
De mosaicos arrancados Inseparáveis
E o sol tão branco é tudo por cantar
Por entre os meus lábios que te trazem!
manuel feliciano
Como quem trás o mundo em bocados
Com pétalas de aurora
Escuridão em lume
E as tuas mãos arderem-me nas rosas
Do húmus a ser têmporas
O mar na chuva a escorrer-me pelas pálpebras
E eu
Neste vertical branco de juncos
És-me da cabeça
Do tronco
E dos membros
Na física das nuvens
Húmidas de olhares que se trocam
Nos teus cabelos a retorcer-me de brisa
No labirinto do teu pensamento
No teu abraço a crucificar-me
Lembro-me de tudo
Estás cheia de sede
Com um vestido azul a cegar-me os olhos
Mas não te moves
Porque te moves
E aqueces e esfrias comigo
O sol
E eu quero refrescar-te na memória da água
E tu abres a boca
Punhado de luz nas asas que me levam
A um corpo celeste
Fendido de esquecimento´
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh não venhas!
tu vieste sempre àquele
Banco que não precisa de chão
Nem de corpo todo presente
Algures presente
Para quê presente?
Esqueci-me de tudo
Como quem te trás por dentro
O meu esquecimento é uma lembrança ausente
Comestivel como os figos
Do verbo iluminado dentro da tua boca
Que chama por mim Memória salgada com gaivotas
E eu procuro-te nas algas
E no que não há a oriente das faces Tudo com a força
De mosaicos arrancados Inseparáveis
E o sol tão branco é tudo por cantar
Por entre os meus lábios que te trazem!
manuel feliciano
5.18.2011
Fogo nupcial de anjos
Eu sou do próprio pó dos deuses
E mais à frente
Mais à frente
Há um mar só mais à frente
E é só a minha cara
Triste
Feliz
Contente
Nascendo em outras caras
Em outras abordagens
E o meu corpo todo fundido
Fogo nupcial de anjos
No tempo mais à frente
Que só tem mais à frente
Altos voos
Na profundidade marítima das coisas
Minhas
Vossas
Perplexas
Simples luar nas folhas caídas
Com crinças no pátio dos astros
Que sobem… que sobem… que sobem
Basta abrir a boca toda
Braçada de luz
E toda a imaginação
Tocável
Com a forma objecta dos sonhos
E é esse pó que me traz todo em seiva
Peixe
Iguana
Cobra
Março
Rio no rubor gasoso das nuvens
Estendido e amplo
De outono em primavera
Aberto nas hastes dos braços
Velejando nas alturas
E esse pó?
E esse pó? É só um sorriso a querer saber de mim
É só Deus a cravar-me um beijo
Sou só eu
Feito de ti
E tu é sempre que os jardins florecem
Sempre que queremos
E esse pó?
E esse pó?
Viagem de tudo
Ainda por fazer
Sempre por fazer Alagar-se de amor
Estrela redentora
É esse pó que não me quer nunca morto!
manuel feliciano
E mais à frente
Mais à frente
Há um mar só mais à frente
E é só a minha cara
Triste
Feliz
Contente
Nascendo em outras caras
Em outras abordagens
E o meu corpo todo fundido
Fogo nupcial de anjos
No tempo mais à frente
Que só tem mais à frente
Altos voos
Na profundidade marítima das coisas
Minhas
Vossas
Perplexas
Simples luar nas folhas caídas
Com crinças no pátio dos astros
Que sobem… que sobem… que sobem
Basta abrir a boca toda
Braçada de luz
E toda a imaginação
Tocável
Com a forma objecta dos sonhos
E é esse pó que me traz todo em seiva
Peixe
Iguana
Cobra
Março
Rio no rubor gasoso das nuvens
Estendido e amplo
De outono em primavera
Aberto nas hastes dos braços
Velejando nas alturas
E esse pó?
E esse pó? É só um sorriso a querer saber de mim
É só Deus a cravar-me um beijo
Sou só eu
Feito de ti
E tu é sempre que os jardins florecem
Sempre que queremos
E esse pó?
E esse pó?
Viagem de tudo
Ainda por fazer
Sempre por fazer Alagar-se de amor
Estrela redentora
É esse pó que não me quer nunca morto!
manuel feliciano
Giesta
Sou do abismo da Luz
Não existo
Só sinto
Giesta no verde monte
Sem sono
E pomar a crescer
Com frutos ilegíveis
Fora das unhas pintadas
Do morro da inteligência
Na cabeça dos fósforos
Palavra desoxigenada
Sou de outras pedras
De outro tempo!
De um vazio cheio de amanhã
E um ontem por nascer
Não tenho nacionalidade
Não tenho pátria
Não sofro de Mouros conquistados
Nem de Caravelas quinhentistas
Nos pulmões da água
Sou a própria caravela
Sem mundo e história
Mar florido da giesta
A arder-me por todo
Enquanto o mundo quebra
Não sabe de si nem das ervas
Reluz em bocas tão cegas
E as ervas são a minha pátria
Porque as ervas nunca se cegam
Com as sementes e os pássaros
Os rios envoltos em estrelas
E o sol nas mãos de outros seres.
manuel feliciano
Não existo
Só sinto
Giesta no verde monte
Sem sono
E pomar a crescer
Com frutos ilegíveis
Fora das unhas pintadas
Do morro da inteligência
Na cabeça dos fósforos
Palavra desoxigenada
Sou de outras pedras
De outro tempo!
De um vazio cheio de amanhã
E um ontem por nascer
Não tenho nacionalidade
Não tenho pátria
Não sofro de Mouros conquistados
Nem de Caravelas quinhentistas
Nos pulmões da água
Sou a própria caravela
Sem mundo e história
Mar florido da giesta
A arder-me por todo
Enquanto o mundo quebra
Não sabe de si nem das ervas
Reluz em bocas tão cegas
E as ervas são a minha pátria
Porque as ervas nunca se cegam
Com as sementes e os pássaros
Os rios envoltos em estrelas
E o sol nas mãos de outros seres.
manuel feliciano
5.16.2011
Não mais morreremos
Não mais morreremos
Porque o teu beijo fica para além
Dos barcos submersos Na voz do mar
Dos ouvidos
Deixados no silêncio das pedras
No fundo do abismo e das ilhas
Desencontradas
De estrelas apagadas no escuro
Das areias sem conchas
Da existência húmida dos ferros
Que a nossa boca
Fez flor
Planicie extensa
Palavra prolongada
Braço não palpável
Enquanto iamos ao fundo
De todos os frutos que não vimos
Numa visão longínqua
Vestida de uma manhã
Cheia de sementes e pássaros
Sedenta
Descobrimos o milagre
Fora da armadura do corpo
Amadurecemos sem sol
Colhemos só de querer O firmamento da rosa
Sem margens
Nas faces E fomos
Por entre línguas trémulas que não mais acabam.
manuel feliciano
Porque o teu beijo fica para além
Dos barcos submersos Na voz do mar
Dos ouvidos
Deixados no silêncio das pedras
No fundo do abismo e das ilhas
Desencontradas
De estrelas apagadas no escuro
Das areias sem conchas
Da existência húmida dos ferros
Que a nossa boca
Fez flor
Planicie extensa
Palavra prolongada
Braço não palpável
Enquanto iamos ao fundo
De todos os frutos que não vimos
Numa visão longínqua
Vestida de uma manhã
Cheia de sementes e pássaros
Sedenta
Descobrimos o milagre
Fora da armadura do corpo
Amadurecemos sem sol
Colhemos só de querer O firmamento da rosa
Sem margens
Nas faces E fomos
Por entre línguas trémulas que não mais acabam.
manuel feliciano
5.15.2011
É dia
Sairemos de barco
Mas não pelo rio
Com a boca verde
Dentro da janela
A remar contra as nuvens
Só pela montanha
De pedra em pedra
De ramo em ramo
Por coisas distantes
Pelos gritos
Contra a desconfiança
A incerteza
O dia no qual não punha nada
Os punhos fechados na boca
Na impressão das imagens
Vestidas de madeira viva
De mar
Dia pleno
E justiça
Que te celebrem bem alto os ombros
Para fazer um jardim que nos mereça.
manuel feliciano
Mas não pelo rio
Com a boca verde
Dentro da janela
A remar contra as nuvens
Só pela montanha
De pedra em pedra
De ramo em ramo
Por coisas distantes
Pelos gritos
Contra a desconfiança
A incerteza
O dia no qual não punha nada
Os punhos fechados na boca
Na impressão das imagens
Vestidas de madeira viva
De mar
Dia pleno
E justiça
Que te celebrem bem alto os ombros
Para fazer um jardim que nos mereça.
manuel feliciano
5.14.2011
Cântico Comum
A terra nem me causa amor
Nem desconforto
Só espanto
Nem a memória
Humana
Presa
Temerosa
Feita de sol e barro
A idolatro
Porque a memória é uma gaveta
Que não conhece a altura dos Deuses
Escondidos no abismo
O meu coração é pobre
E não corre atrás de nada
Porque o rio não corre atrás do mar
Deixa-se ir pela encosta
E não pugna pelas flores
Que latejam em jardins
Apanhadas há tanto tempo
Nem por sorrisos
Que se passeiam nas ruas
Mas que dormem
Sossegados na pele
Desde sempre cheios de vida
Não digo à torre alta:
- És a virilidade e a perfeição do tempo
E à torre baixa:
- És a margarida inacabada…
Não vivo como quem quer arrancar tudo
A nuvem que é nuvem também erra
E eu como ela caio
E eu como ela me evaporo
Em rotação constante
Sou um mero caminho acidentado
Não mais que um baldio de terra
Nas letras das ervas
Sem cicatrizes Embora doa
A urze e abelhas
Porque a vida e a chuva
Ardem mas não são lenha
E não nos deixam as cinzas
Senão a boca que transborda
O amor sublimado
Nas palmeiras do tempo
Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!
manuel feliciano
Nem desconforto
Só espanto
Nem a memória
Humana
Presa
Temerosa
Feita de sol e barro
A idolatro
Porque a memória é uma gaveta
Que não conhece a altura dos Deuses
Escondidos no abismo
O meu coração é pobre
E não corre atrás de nada
Porque o rio não corre atrás do mar
Deixa-se ir pela encosta
E não pugna pelas flores
Que latejam em jardins
Apanhadas há tanto tempo
Nem por sorrisos
Que se passeiam nas ruas
Mas que dormem
Sossegados na pele
Desde sempre cheios de vida
Não digo à torre alta:
- És a virilidade e a perfeição do tempo
E à torre baixa:
- És a margarida inacabada…
Não vivo como quem quer arrancar tudo
A nuvem que é nuvem também erra
E eu como ela caio
E eu como ela me evaporo
Em rotação constante
Sou um mero caminho acidentado
Não mais que um baldio de terra
Nas letras das ervas
Sem cicatrizes Embora doa
A urze e abelhas
Porque a vida e a chuva
Ardem mas não são lenha
E não nos deixam as cinzas
Senão a boca que transborda
O amor sublimado
Nas palmeiras do tempo
Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!
manuel feliciano
5.13.2011
Urbi et Orbi
Deixa-te só ser árvore
Porque as árvores não se cansam
Cantam com alegria a fome
E abraçam para cima
Mesmo se os navios se afundam
No ciclo umbilical da seiva
A transbordar de ternura
Se és pobre ama com as mãos cheias
Sem quereres saber de ti
O mar inventa-o nas pedras
Porque as pedras são liberdade
Palavra sem freio ao vento
Mulher madura em fruto
Mar no colo de outros mares
Não reclames a pátria para ti
Porque a pátria é uma parte da beleza
Mas tu és da poeira ancestral
E nasceste com o propósito do mundo
E o mundo é do segredo da abelha
Que a simples asa ausenta
E só o mel é que faz jus aos teus olhos!
E os teus olhos magoados
Com o pássaro que caiu do ninho
Não choram só porque chove
Não riem só porque está sol
Estão envoltos numa outra esfera
Que sonha abrir a primavera
E morrer com a boca em cântico
Como quem morre de amor e é
Imagem musical absoluta
A única palavra muscular
Ave azul em pleno voo
Que toda a realidade é abstracta
Desfeita em veias do desconforto
Onde corro em plenas águas
Acaso que sabes das coisas?
Do ombigo que nada ouve
Da noite que abre os braços às estrelas
Da força que gera o mundo
Senão que inutilemente existes
Na eternidade que te conhece
Mesmo se te diz sempre que não
O não é um Deus que te sabe por inteiro.
manuel feliciano
Porque as árvores não se cansam
Cantam com alegria a fome
E abraçam para cima
Mesmo se os navios se afundam
No ciclo umbilical da seiva
A transbordar de ternura
Se és pobre ama com as mãos cheias
Sem quereres saber de ti
O mar inventa-o nas pedras
Porque as pedras são liberdade
Palavra sem freio ao vento
Mulher madura em fruto
Mar no colo de outros mares
Não reclames a pátria para ti
Porque a pátria é uma parte da beleza
Mas tu és da poeira ancestral
E nasceste com o propósito do mundo
E o mundo é do segredo da abelha
Que a simples asa ausenta
E só o mel é que faz jus aos teus olhos!
E os teus olhos magoados
Com o pássaro que caiu do ninho
Não choram só porque chove
Não riem só porque está sol
Estão envoltos numa outra esfera
Que sonha abrir a primavera
E morrer com a boca em cântico
Como quem morre de amor e é
Imagem musical absoluta
A única palavra muscular
Ave azul em pleno voo
Que toda a realidade é abstracta
Desfeita em veias do desconforto
Onde corro em plenas águas
Acaso que sabes das coisas?
Do ombigo que nada ouve
Da noite que abre os braços às estrelas
Da força que gera o mundo
Senão que inutilemente existes
Na eternidade que te conhece
Mesmo se te diz sempre que não
O não é um Deus que te sabe por inteiro.
manuel feliciano
5.11.2011
Pomar Vermelho
Granjeio o teu nome
Num pomar vermelho
De caravelas lavrando a espuma
Silêncio com sons que rasgam
Gritos em cavalos de sol
Que não se ouvem
E ecoam nos dentes
E a língua
Na omoplata do olhar
Desenha-te em sílabas
Em raízes de cabelos
Que Justificam todo o corpo
Ausente
Reflectido
Aqui e agora
Na fronteira sem linha
Antigos caminhos que me moram
Na explosão da estrela
Vivificada da pele
Onde me abraças e não sentes
O mistério da minha boca
Mar do azul das tuas pálpebras.
manuel feliciano
Num pomar vermelho
De caravelas lavrando a espuma
Silêncio com sons que rasgam
Gritos em cavalos de sol
Que não se ouvem
E ecoam nos dentes
E a língua
Na omoplata do olhar
Desenha-te em sílabas
Em raízes de cabelos
Que Justificam todo o corpo
Ausente
Reflectido
Aqui e agora
Na fronteira sem linha
Antigos caminhos que me moram
Na explosão da estrela
Vivificada da pele
Onde me abraças e não sentes
O mistério da minha boca
Mar do azul das tuas pálpebras.
manuel feliciano
5.09.2011
Alma
Sofro por uma lágrima tua
Que me incendeie todo o corpo
Que me faça vislumbrar a alma
Esse pedaço fechado que levas nas tuas mãos
O que preciso para ter-me por inteiro
É uma lágrima a cair
É eu a querer saber de mim
Esse pedaço fechado que sabe mais
Que todos os olhos abertos
Não menos que as Ovelhas no pasto
Não menos que o Movimento da terra
É gotas de um sorriso no mar
É carne do meu sentir
Abrindo-te todas as mãos
Príncipio que não tem fim
Tão fechado
Tão fechado
Pedaço que sinto e não vejo
Falésia que me abre o céu.
manuel feliciano
Que me incendeie todo o corpo
Que me faça vislumbrar a alma
Esse pedaço fechado que levas nas tuas mãos
O que preciso para ter-me por inteiro
É uma lágrima a cair
É eu a querer saber de mim
Esse pedaço fechado que sabe mais
Que todos os olhos abertos
Não menos que as Ovelhas no pasto
Não menos que o Movimento da terra
É gotas de um sorriso no mar
É carne do meu sentir
Abrindo-te todas as mãos
Príncipio que não tem fim
Tão fechado
Tão fechado
Pedaço que sinto e não vejo
Falésia que me abre o céu.
manuel feliciano
5.07.2011
Cadavre Excquis
São de água os barcos submersos na cidade
A idiotice passeia-se em farois brancos
Que os mosquitos engolem sem misericórdia
E há tudo para sofregar numa manhã verde
Árvores dos pensamentos à tona das ruas
Enrolados num cigarro que poucos vêem
E a infância lateja nas folhas secas
E os olhos transbordam para outra face
Onde o sol não morre feito um cadáver
Disseram-me que havia
Uma mulher na praça
E que vendia
Costas nuas
Casas de fumo
Raios de felicidade
Noites sudorentas no cio dos corpos
O orgulho a desfalecer no leite
A raiva amolecer nas aves
E um suspiro quase a ser céu
O filtro do crépusculo em interditas pedras
Para não ser mais
Por detrás do sol
A terra em movimento inverso
Os lábios brancos
A inutilidade do espaço
Os rios varonis com todo o aço
O desmanchar do lume
Que nos traz à tona.
E eu comprei
Móveis que se dobram na boca
E se penteiam na lua
E não se confinam aos limites
E riem-se vergados de frutos
E nos despertam do sono
E nos enchem de outras ruas
No cérebro de outras lâmpadas
Um velho a perdurar no limbo
Um ninho sem um triz nos lábios
Fintei a firmeza da terra
O húmus no transcurso dos teus dedos
Onde escorrem as almas todas
E a dor é quando
O teu beijo é estrela amor
Face que dispensa toda a sombra
Quando me volto para ti.
manuel feliciano
A idiotice passeia-se em farois brancos
Que os mosquitos engolem sem misericórdia
E há tudo para sofregar numa manhã verde
Árvores dos pensamentos à tona das ruas
Enrolados num cigarro que poucos vêem
E a infância lateja nas folhas secas
E os olhos transbordam para outra face
Onde o sol não morre feito um cadáver
Disseram-me que havia
Uma mulher na praça
E que vendia
Costas nuas
Casas de fumo
Raios de felicidade
Noites sudorentas no cio dos corpos
O orgulho a desfalecer no leite
A raiva amolecer nas aves
E um suspiro quase a ser céu
O filtro do crépusculo em interditas pedras
Para não ser mais
Por detrás do sol
A terra em movimento inverso
Os lábios brancos
A inutilidade do espaço
Os rios varonis com todo o aço
O desmanchar do lume
Que nos traz à tona.
E eu comprei
Móveis que se dobram na boca
E se penteiam na lua
E não se confinam aos limites
E riem-se vergados de frutos
E nos despertam do sono
E nos enchem de outras ruas
No cérebro de outras lâmpadas
Um velho a perdurar no limbo
Um ninho sem um triz nos lábios
Fintei a firmeza da terra
O húmus no transcurso dos teus dedos
Onde escorrem as almas todas
E a dor é quando
O teu beijo é estrela amor
Face que dispensa toda a sombra
Quando me volto para ti.
manuel feliciano
5.05.2011
Para além das coisas
As flores secas num lugar improvável
Deram-nos as mãos num jardim verde
E os cânticos dos pássaros que não estavam
As maçãs douradas no gume do riacho
E as palavras adormecidas no sangue das folhas
Era a maravilha das fontes a desenlear
O nosso próprio amor a arder noutra vereda
E o vazio era um seio quente
E a inquietude as línguas no sossego do céu
E o fim o ciclo húmido da rosa
E a secura soube-nos a água pelos braços
Dos pés a cabeça a latejar na brisa
O verbo a refulgir nos ângulos já mortos
A vida prolongada em pedras maduras
Pingou-se-nos o corpo na constelação dos olhos
E os pés seguiram mesmo fora dos muros.
manuel feliciano
Deram-nos as mãos num jardim verde
E os cânticos dos pássaros que não estavam
As maçãs douradas no gume do riacho
E as palavras adormecidas no sangue das folhas
Era a maravilha das fontes a desenlear
O nosso próprio amor a arder noutra vereda
E o vazio era um seio quente
E a inquietude as línguas no sossego do céu
E o fim o ciclo húmido da rosa
E a secura soube-nos a água pelos braços
Dos pés a cabeça a latejar na brisa
O verbo a refulgir nos ângulos já mortos
A vida prolongada em pedras maduras
Pingou-se-nos o corpo na constelação dos olhos
E os pés seguiram mesmo fora dos muros.
manuel feliciano
Do nada
Aí vem ela das sombras
Das cinzas
Dos lábios em terra seca
Invernos que mataram
Cheios de séculos
Destinos e labirintos
E a carne toda em brasa
Na cinturinha das flores[…]
Quero-te prender
Para que não saias do limite
Saindo fora de todos os limites
E te saborear
Saborear com gostinho
A a doçura do teu pólen
Na crosta
Inflamda da flor
A tremer
Depois da boca do gelo
Ter queimado toda a erva
Ter exclamdo toda a morte
Tu Sofres-me
Como raízes no cérebro
Como algo que só entendo
E por isso eu corro[…]
Como uma lâmpada do nada
Acesa com todo o seu escuro
Cheinha da tua voz[…]
Para te ter
E te deter
E escrever
E lamber
Os teus ombros
E abismos
E cabelos que não findam
E os cantos que a tua face
Esconde
E caminhos que desconheço
Como quem os conhece a todos
Mas tu[…]
Como és desejável tu
Com as tuas mãos fresquinhas
Sofregas para me nascer[…]
Porque és do abstracto das coisas
Só me deixas o perfume
E uma música a parir
O teu corpo a consumir-me.
manuel feliciano
Das cinzas
Dos lábios em terra seca
Invernos que mataram
Cheios de séculos
Destinos e labirintos
E a carne toda em brasa
Na cinturinha das flores[…]
Quero-te prender
Para que não saias do limite
Saindo fora de todos os limites
E te saborear
Saborear com gostinho
A a doçura do teu pólen
Na crosta
Inflamda da flor
A tremer
Depois da boca do gelo
Ter queimado toda a erva
Ter exclamdo toda a morte
Tu Sofres-me
Como raízes no cérebro
Como algo que só entendo
E por isso eu corro[…]
Como uma lâmpada do nada
Acesa com todo o seu escuro
Cheinha da tua voz[…]
Para te ter
E te deter
E escrever
E lamber
Os teus ombros
E abismos
E cabelos que não findam
E os cantos que a tua face
Esconde
E caminhos que desconheço
Como quem os conhece a todos
Mas tu[…]
Como és desejável tu
Com as tuas mãos fresquinhas
Sofregas para me nascer[…]
Porque és do abstracto das coisas
Só me deixas o perfume
E uma música a parir
O teu corpo a consumir-me.
manuel feliciano
5.04.2011
A angústia
Disse-me que havia um jardim
Onde os ramos eram rouxos
E que os desejos doiam
Mais que as cicatrizes da carne
E o sol ensopado de noite
Sabia à brancura dos frutos
E só a beleza escoava
Na dor azul tão réptil
Mas que as pálpebras inflamadas
Embora maduras para a apanha
Fazem parte de outro Outono
E que os pássaros eram outros no diadema do sangue
Que cinge a sua cabeça.
E quando a espuma lhe abraça a cara
E quando o sal é flor vermelha
O frio é árvore que abraça
O sulco dos olhos jardim
E a terra negra uma estrela
O único cérebro do corpo.
manuel feliciano
Onde os ramos eram rouxos
E que os desejos doiam
Mais que as cicatrizes da carne
E o sol ensopado de noite
Sabia à brancura dos frutos
E só a beleza escoava
Na dor azul tão réptil
Mas que as pálpebras inflamadas
Embora maduras para a apanha
Fazem parte de outro Outono
E que os pássaros eram outros no diadema do sangue
Que cinge a sua cabeça.
E quando a espuma lhe abraça a cara
E quando o sal é flor vermelha
O frio é árvore que abraça
O sulco dos olhos jardim
E a terra negra uma estrela
O único cérebro do corpo.
manuel feliciano
5.02.2011
Colo inóspito
Hoje todo eu sou uma larva
E o meu céu é uma maçã
Lançada ao vento
Nos olhos da terra
Voltados para as costas dos pinheiros
Para a visões que não engolem
E a caruma é o mar verde
E as minhas mãos sombras de pomares
Onde tu estás tão presente
E o meu grito é silêncio
Mas tem carne
O hálito da tua boca
Cheira à flor da tua pele
A cadeira onde te sentas e tomas amor comigo
Numa chávena sem fundo
E as madrugadas onde tu não estás
E as palavras fechadas dentro das cartas
Tão abertas como se a vida as quisesse
E o teu colo as acolhesse
São patas de caranguejos
Fogem da espuma do mar
Atravessam os limites da vida
Sem as rédeas onde as pernas tropeçam.
E o meu céu é uma maçã
Lançada ao vento
Nos olhos da terra
Voltados para as costas dos pinheiros
Para a visões que não engolem
E a caruma é o mar verde
E as minhas mãos sombras de pomares
Onde tu estás tão presente
E o meu grito é silêncio
Mas tem carne
O hálito da tua boca
Cheira à flor da tua pele
A cadeira onde te sentas e tomas amor comigo
Numa chávena sem fundo
E as madrugadas onde tu não estás
E as palavras fechadas dentro das cartas
Tão abertas como se a vida as quisesse
E o teu colo as acolhesse
São patas de caranguejos
Fogem da espuma do mar
Atravessam os limites da vida
Sem as rédeas onde as pernas tropeçam.
5.01.2011
Massa de ar
Quero a boca esmagada de ternura
E um sol de pedra que me mate a sede
Para que siga por esta carne fraca
E em silêncio escute a voz das silvas
Com os meus ombros de lata tumefactos
Porque eu quero o amor num tronco seco
E um céu de árvores com aves e estrelas
E entrar na casa húmida e transparente
Com pilares espetados dentro da massa de ar
Como se esteja agarrada aos músculos
E o chão já nem sequer valha nada […]
quero tudo isto
como as raízes das nuvens
Em hélices de aeronaves
Fogo e água
Riso e choro
Morte ilusão
E a vida palavra sem porto
Rolando às cambalhotas
Sem os olhos presos a amargos vimeiros
E à escuridão que cega
Me rasgue todos os meus olhos
Como a chuva que transborda a moldura da boca
E desagua nas pedras mesmo sem rio e leito.
manuel feliciano
E um sol de pedra que me mate a sede
Para que siga por esta carne fraca
E em silêncio escute a voz das silvas
Com os meus ombros de lata tumefactos
Porque eu quero o amor num tronco seco
E um céu de árvores com aves e estrelas
E entrar na casa húmida e transparente
Com pilares espetados dentro da massa de ar
Como se esteja agarrada aos músculos
E o chão já nem sequer valha nada […]
quero tudo isto
como as raízes das nuvens
Em hélices de aeronaves
Fogo e água
Riso e choro
Morte ilusão
E a vida palavra sem porto
Rolando às cambalhotas
Sem os olhos presos a amargos vimeiros
E à escuridão que cega
Me rasgue todos os meus olhos
Como a chuva que transborda a moldura da boca
E desagua nas pedras mesmo sem rio e leito.
manuel feliciano
4.30.2011
Asas quebradas
A chuva que clareou
Pela verdura dos montes
Nos olhos azuis dos sonhos
Em verticais navios
Desertos por marinheiros
Nas ondas ferradas dos dentes
Pelos ombros dos pinheiros
Despiu-se numa mulher de aveia
Nas rochas trémulas da boca
E só nos deixou uma sombra
Que incendiou o sol por dentro.
manuel feliciano
Pela verdura dos montes
Nos olhos azuis dos sonhos
Em verticais navios
Desertos por marinheiros
Nas ondas ferradas dos dentes
Pelos ombros dos pinheiros
Despiu-se numa mulher de aveia
Nas rochas trémulas da boca
E só nos deixou uma sombra
Que incendiou o sol por dentro.
manuel feliciano
A espera
O sol arrastado à cabeça de uma junta de bois
E tantos de nós com as pernas
Lavradas nas entranhas da terra…
Na aliança de dedos sem aneis
Disseram-me para esperar foda-se
Coisa estranha a puta da espera
Os braços sem braços
As pernas sem pernas
Até para nascer eu tive que esperar
Mas se ao menos esperar valesse a pena
Para a puta da vida me abrir as pernas
Estes dias de Ulisses na ilha de Calipso
E a Penépole a tricotar na minha garganta
Seriam ainda alguma coisa
Senão hoje vai ter mesmo que ser
Comer um desejo embalsamado
Esperar por uma noiva que tarda em chegar ao altar
E pensar o céu num canteiro
E ter que fazer disto um navio
E ter que fazer disto um Deus amável
E ter que fazer disto uma vida de santo
E ter que fazer disto um doce veneno
Depois que os bois lavraram estas entranhas
Há ratos à superficie
E as cobras atentam contra os ratos
E os ratos fogem da cobras
E eu fujo de tudo isto
Será que eu sou daqui caralho?
Deste jogo de cabra cega
Batendo com os cornos no muro
Como se não haja muros e cornos
E se ao menos o que eu digo fosse uma curta metragem
Mas não…esta merda é crometrada em câmera lenta
Para ser chupada
Lambida
Expurgada
Para entrar no céu completamento limpinho
Sem a toxiciade da nicotina
Não fossem os meus sonhos
A medula de uma pedra
Onde é que estavam todos os meus Deuses?
Onde é que eu poderia tomar um duche
Na maçaneta de uma porta
Onde é que eu poderia estar contigo definitivamente?
Com ternura
As mãos frescas e prontas
Com inocência e vulva
Na boca fresca da brisa
Com os joelhos em sangue nos meus olhos
A lembrarem duas flores vermelhas
Ah não vou gritar porque nenhum Deus vem salvar o mundo
Porque os Deuses também são escravos
Porque os Deuses esperam por tudo
Porque os Deus também são vítimas
Porque os Deuses também estão fartos
Desta máquina enferrujada que tinha que ser podre para ser vida!
manuel feliciano
E tantos de nós com as pernas
Lavradas nas entranhas da terra…
Na aliança de dedos sem aneis
Disseram-me para esperar foda-se
Coisa estranha a puta da espera
Os braços sem braços
As pernas sem pernas
Até para nascer eu tive que esperar
Mas se ao menos esperar valesse a pena
Para a puta da vida me abrir as pernas
Estes dias de Ulisses na ilha de Calipso
E a Penépole a tricotar na minha garganta
Seriam ainda alguma coisa
Senão hoje vai ter mesmo que ser
Comer um desejo embalsamado
Esperar por uma noiva que tarda em chegar ao altar
E pensar o céu num canteiro
E ter que fazer disto um navio
E ter que fazer disto um Deus amável
E ter que fazer disto uma vida de santo
E ter que fazer disto um doce veneno
Depois que os bois lavraram estas entranhas
Há ratos à superficie
E as cobras atentam contra os ratos
E os ratos fogem da cobras
E eu fujo de tudo isto
Será que eu sou daqui caralho?
Deste jogo de cabra cega
Batendo com os cornos no muro
Como se não haja muros e cornos
E se ao menos o que eu digo fosse uma curta metragem
Mas não…esta merda é crometrada em câmera lenta
Para ser chupada
Lambida
Expurgada
Para entrar no céu completamento limpinho
Sem a toxiciade da nicotina
Não fossem os meus sonhos
A medula de uma pedra
Onde é que estavam todos os meus Deuses?
Onde é que eu poderia tomar um duche
Na maçaneta de uma porta
Onde é que eu poderia estar contigo definitivamente?
Com ternura
As mãos frescas e prontas
Com inocência e vulva
Na boca fresca da brisa
Com os joelhos em sangue nos meus olhos
A lembrarem duas flores vermelhas
Ah não vou gritar porque nenhum Deus vem salvar o mundo
Porque os Deuses também são escravos
Porque os Deuses esperam por tudo
Porque os Deus também são vítimas
Porque os Deuses também estão fartos
Desta máquina enferrujada que tinha que ser podre para ser vida!
manuel feliciano
4.29.2011
Estrada adentro
É agora é que eu preciso de uma rua na minha garganta
E que tu ma possas pisar até doer...
Que a sola húmida dos sapatos
Que usas cor de rosa
Igual às rosas que gemem sempre em todas as primaveras
Sejam veados livres pastando na minha pele
Cheia de erva e pasto
E a tua respiração
A estrada repleta da carne do chão
Onde eu ouço as bocas que afinal
Não morreram
Acredita comigo
Que a minha garganta é a mesma das pedras da tua rua
Que as luzes todas que escutas é o mar
E o mar é a tua voz
E a tua voz sou eu contigo
O sol e a noite
A noite e o sol
Todos os dias na poeira dos ósculos que os rios engolem
Pela minha garganta até ao estômago
Sedento de peixes
Enleados aos teus ouvidos
Que é o nosso céu e as nuvens
Mortas por chover
Como couves mirradas por água
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Não fiques à espera de nada
Espera como quem corre para os meus braços
Rebentado ainda mesmo no Inverno das árvores
Nos desertos onde os barcos não crêem
Mas eu creio em ti meu amor
Como é que eu te posso dizer que creio em ti sem joio
Que as minhas pernas tolhidas
Estão cheias de um oceano mais alto que céu
E as minhas lágrimas estão cheias da tua cara
E que a tua alma agoniada
É um veleiro que me pesa e arde no cérebro
O sangue alimentando as estrelas
Mas pisas-me, pisa-me
Sempre que fores à missa ao Domingo
Não te esqueças que eu sou uma parte do domingo
E que os dias não teriam o mesmo sentido se não fossem pisados.
manuel feliciano
E que tu ma possas pisar até doer...
Que a sola húmida dos sapatos
Que usas cor de rosa
Igual às rosas que gemem sempre em todas as primaveras
Sejam veados livres pastando na minha pele
Cheia de erva e pasto
E a tua respiração
A estrada repleta da carne do chão
Onde eu ouço as bocas que afinal
Não morreram
Acredita comigo
Que a minha garganta é a mesma das pedras da tua rua
Que as luzes todas que escutas é o mar
E o mar é a tua voz
E a tua voz sou eu contigo
O sol e a noite
A noite e o sol
Todos os dias na poeira dos ósculos que os rios engolem
Pela minha garganta até ao estômago
Sedento de peixes
Enleados aos teus ouvidos
Que é o nosso céu e as nuvens
Mortas por chover
Como couves mirradas por água
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Não fiques à espera de nada
Espera como quem corre para os meus braços
Rebentado ainda mesmo no Inverno das árvores
Nos desertos onde os barcos não crêem
Mas eu creio em ti meu amor
Como é que eu te posso dizer que creio em ti sem joio
Que as minhas pernas tolhidas
Estão cheias de um oceano mais alto que céu
E as minhas lágrimas estão cheias da tua cara
E que a tua alma agoniada
É um veleiro que me pesa e arde no cérebro
O sangue alimentando as estrelas
Mas pisas-me, pisa-me
Sempre que fores à missa ao Domingo
Não te esqueças que eu sou uma parte do domingo
E que os dias não teriam o mesmo sentido se não fossem pisados.
manuel feliciano
4.27.2011
O luar das sombras
O mar prolonga-se nos cabelos das árvores
E as árvores sulcam a frescura do mar
Os dias não se bebem no latejar dos astros
SER é o único tempo
Enlaçado a todo o recomeço
como se os olhos magoem toda a verdade
Inocente
Pequena
Abismal
Enquanto que gotejamos na garganta das flores
Pensamos que não sabemos das flores, árvores e astros
Mas tudo isto nos arde
E nasce, sente, e envelhece connosco
E sentir é a visão do mundo
As únicas mãos pálpaveis
E a morte enlouquece-me com tanta vida
De meninas
Na sombra verde das árvores Como a brisa me encarne
Nas asas húmidas de frutos
Porque eu me dou todo por inteiro
Até que o grito infinito do amor
me colha nas pálpebras do berço
Onde até os Deuses choram
Com a mesma boca que me oferecem
Uma criança constante!
manuel feliciano
E as árvores sulcam a frescura do mar
Os dias não se bebem no latejar dos astros
SER é o único tempo
Enlaçado a todo o recomeço
como se os olhos magoem toda a verdade
Inocente
Pequena
Abismal
Enquanto que gotejamos na garganta das flores
Pensamos que não sabemos das flores, árvores e astros
Mas tudo isto nos arde
E nasce, sente, e envelhece connosco
E sentir é a visão do mundo
As únicas mãos pálpaveis
E a morte enlouquece-me com tanta vida
De meninas
Na sombra verde das árvores Como a brisa me encarne
Nas asas húmidas de frutos
Porque eu me dou todo por inteiro
Até que o grito infinito do amor
me colha nas pálpebras do berço
Onde até os Deuses choram
Com a mesma boca que me oferecem
Uma criança constante!
manuel feliciano
4.26.2011
Luar de sangue
Fiz do silêncio dos olhos
As palavras dos nossos braços
Do cérebro inflamado
A andorinha do teus pés
Da garganta com ponteiros
O teu vestido tão líquido
Da espera empedrenida
Um candelabro na boca
No chão que falseia
A ponte que nos segura
Do peito desfeito em terra
Duas bocas desejosas
Da exaustão em sangue
O teu corpo no céu
Mesa do meu prazer
Para finalmente comermos
O muito que ainda nos sobra!
manuel feliciano
As palavras dos nossos braços
Do cérebro inflamado
A andorinha do teus pés
Da garganta com ponteiros
O teu vestido tão líquido
Da espera empedrenida
Um candelabro na boca
No chão que falseia
A ponte que nos segura
Do peito desfeito em terra
Duas bocas desejosas
Da exaustão em sangue
O teu corpo no céu
Mesa do meu prazer
Para finalmente comermos
O muito que ainda nos sobra!
manuel feliciano
4.25.2011
Viris Sombras
Hoje uma voz disse-me que eu era eterno
E que as pedras afinal têm garganta e carne
Como que um vulto a engolir o deserto
E uma pápebra a consomir-me todo o pó
O pó de andar sempre à procura de não ter pó
E brilhar num grito
De uma púbis tão virgem
Cheia de palavras
E de um tesão branco
E uma laranja inchada respirou-me a alma
Que vida tão lubrificada escrita nuns lábios tão surdos
Que têm a sabedoria de ter a surdez do teu pântano
Retalhado nos collants do céu
Como se um choro enraizasse nas têmporas do tempo
E uma luz lambesse bocados do escuro
Com galáxias dentro de um lugar inabitável
Cheios de seres sem corpo
Uma noite coube-me toda na vulva da voz
De uma memória tão húmida
E gástrica que me ardeu nos neurônios
E o amor ressucitou pássaros de ervas já secas
E as minhas mãos
Onde estavam as minhas mãos?
Num décimo andar
Onde nenhum homem se lembra de cobrar impostos
Nem ninguém pensa dactilografar
No meu umbigo
Abelhas nos vasos das flores do canteiro
A sociedade vista de cima
Sombra do meu pênis a latejar
E ainda bem que se esqueceram de mim
E todos os frios se lembram de me trazer
Os teus seios para me aquecerem
Que não me trouxeram a esperança mirrada nos figos
E porque as minhas mãos estavam livres
Mamei o leite nas friestas da fome
Como quem vê o rio
A fugir ao longe
Trémulo de febre
Nas águas furtadas de um telhado
E ao longe num ocenano que eu mesmo desconheço
Eu esculpo nesta cicatriz com quem a purifica
O amor que ainda é uma árvore dúctil a nascer na chuva
E dou por mim a vir-me na quilha de um navio
A foder todos os séculos que ainda estão por vir
Que todos os que já foram não me sabem a nada.
manuel feliciano
E que as pedras afinal têm garganta e carne
Como que um vulto a engolir o deserto
E uma pápebra a consomir-me todo o pó
O pó de andar sempre à procura de não ter pó
E brilhar num grito
De uma púbis tão virgem
Cheia de palavras
E de um tesão branco
E uma laranja inchada respirou-me a alma
Que vida tão lubrificada escrita nuns lábios tão surdos
Que têm a sabedoria de ter a surdez do teu pântano
Retalhado nos collants do céu
Como se um choro enraizasse nas têmporas do tempo
E uma luz lambesse bocados do escuro
Com galáxias dentro de um lugar inabitável
Cheios de seres sem corpo
Uma noite coube-me toda na vulva da voz
De uma memória tão húmida
E gástrica que me ardeu nos neurônios
E o amor ressucitou pássaros de ervas já secas
E as minhas mãos
Onde estavam as minhas mãos?
Num décimo andar
Onde nenhum homem se lembra de cobrar impostos
Nem ninguém pensa dactilografar
No meu umbigo
Abelhas nos vasos das flores do canteiro
A sociedade vista de cima
Sombra do meu pênis a latejar
E ainda bem que se esqueceram de mim
E todos os frios se lembram de me trazer
Os teus seios para me aquecerem
Que não me trouxeram a esperança mirrada nos figos
E porque as minhas mãos estavam livres
Mamei o leite nas friestas da fome
Como quem vê o rio
A fugir ao longe
Trémulo de febre
Nas águas furtadas de um telhado
E ao longe num ocenano que eu mesmo desconheço
Eu esculpo nesta cicatriz com quem a purifica
O amor que ainda é uma árvore dúctil a nascer na chuva
E dou por mim a vir-me na quilha de um navio
A foder todos os séculos que ainda estão por vir
Que todos os que já foram não me sabem a nada.
manuel feliciano
4.23.2011
Mísero oferecer
Se era para me dares as tuas mãos
Que não tinham fome
Se era para me dares os teus olhos que não tinham sede
Desses-me antes punhais
Que os fazia anjos
Desses-me a noite que eu a tornaria lua
Trouxesses contigo o cantar do Outono
Que tem a miséria de ser grande
E de me iluminar toda a minha alma
E me dar as flores que a Primavera não soube!
manuel feliciano
Que não tinham fome
Se era para me dares os teus olhos que não tinham sede
Desses-me antes punhais
Que os fazia anjos
Desses-me a noite que eu a tornaria lua
Trouxesses contigo o cantar do Outono
Que tem a miséria de ser grande
E de me iluminar toda a minha alma
E me dar as flores que a Primavera não soube!
manuel feliciano
4.21.2011
Matéria Evanescente
Os teus olhos
Leio-os, até ao fim desse livro virgem
Desse mar do qual sou estranho
E dói-me o ruido dos pés
De feiticieiras ancestrais no absurdo dos muros que se prolongam
E o mole do beijo é tão duro.
O que sou? Pergunta-me uma noite de aço
Uma galinha sem crenças na lama.
A voz que sobeja por fora Sou tudo sem razão e ossos
E não consigo transbordar as margens. E o lábios não calculam o íntimo
E a memória rasteja a meio da ponte
Puta que pariu a máteria
Gritou-me uma voz de um tempo longo
E vejo o eco da minha sombra
Nos corredores evanescentes da boca.
Nas massa muscular do corpo
E os galhos de árvores voando nas aves
Sou muito mais que esta terra velha e seca. Que a surdez dos operários
Que a imagem obsuleta e escura
Num vestidinho cor de rosa
Eu vejo como a água corre
No cantar dos frutos
Os olhos são um lugar que nada veem
Tenho as mãos tão sofregas por nada saber dos olhos
Senão dos raios que lhes engolo
Mas os olhos são um lugar de assombro
São quando te beijo
Um livro fora de todas as leis do tempo
Nas malhas da pele.
E eis que ela me esmaga com as coxas
Como se uma mão me arda mais além
E me mostre o incógnito voo. O que me dá a percepção de alguma vez os ter visto.
manuel feliciano
Leio-os, até ao fim desse livro virgem
Desse mar do qual sou estranho
E dói-me o ruido dos pés
De feiticieiras ancestrais no absurdo dos muros que se prolongam
E o mole do beijo é tão duro.
O que sou? Pergunta-me uma noite de aço
Uma galinha sem crenças na lama.
A voz que sobeja por fora Sou tudo sem razão e ossos
E não consigo transbordar as margens. E o lábios não calculam o íntimo
E a memória rasteja a meio da ponte
Puta que pariu a máteria
Gritou-me uma voz de um tempo longo
E vejo o eco da minha sombra
Nos corredores evanescentes da boca.
Nas massa muscular do corpo
E os galhos de árvores voando nas aves
Sou muito mais que esta terra velha e seca. Que a surdez dos operários
Que a imagem obsuleta e escura
Num vestidinho cor de rosa
Eu vejo como a água corre
No cantar dos frutos
Os olhos são um lugar que nada veem
Tenho as mãos tão sofregas por nada saber dos olhos
Senão dos raios que lhes engolo
Mas os olhos são um lugar de assombro
São quando te beijo
Um livro fora de todas as leis do tempo
Nas malhas da pele.
E eis que ela me esmaga com as coxas
Como se uma mão me arda mais além
E me mostre o incógnito voo. O que me dá a percepção de alguma vez os ter visto.
manuel feliciano
4.20.2011
Medo de existir
Há um medo ao longe dentro de mim
Que nasce fora de tudo
Como eu seja o longe e todas a coisas me gritem
Digam-me quem eu sou
Que eu estou cego de tudo
Num clarão das madrugadas
Quebrem todo o meu medo
Numa boca quente
Terna de misericordia
Como se uma sílaba me falte nos cabelos
E as reticências não cessem as fontes
Onde eu danço despido
Tão despido que só posso ser
Eu
Tu
Nós
Flor e sombra
Floresta e sol no moínho das tábuas
E o silêncio da eternidade
A refazer outra voz
Porque eu não sei de mim nem da coisas
Como as conheça
Como as sinta a palpitar
Numa voz que me arde no peito
Que eu sinto no crepúsculo da língua
E me esconde de um qualquer lugar
Que me abraça e descontroi
Tenho medo
Como a minha mãe comigo ao colo
Não seja mar
Lágrimas e sorrisos embrulhados nos dedos
Mel nas flores e nas abelhas
E o coração Estrelas com gotas de amor
Como se tudo isto não baste
E a maravilha não me arda na garganta
Como eu esteja em tudo e pense que é só deserto
Este braços grandes da matéria dos lagos
Tenho medo
Como se o cheiro te esconda por detrás
E te diga não com a boca enrolada em névoas
E um corpo nasça do nada
com o sol a querer espreitar.
manuel feliciano
Que nasce fora de tudo
Como eu seja o longe e todas a coisas me gritem
Digam-me quem eu sou
Que eu estou cego de tudo
Num clarão das madrugadas
Quebrem todo o meu medo
Numa boca quente
Terna de misericordia
Como se uma sílaba me falte nos cabelos
E as reticências não cessem as fontes
Onde eu danço despido
Tão despido que só posso ser
Eu
Tu
Nós
Flor e sombra
Floresta e sol no moínho das tábuas
E o silêncio da eternidade
A refazer outra voz
Porque eu não sei de mim nem da coisas
Como as conheça
Como as sinta a palpitar
Numa voz que me arde no peito
Que eu sinto no crepúsculo da língua
E me esconde de um qualquer lugar
Que me abraça e descontroi
Tenho medo
Como a minha mãe comigo ao colo
Não seja mar
Lágrimas e sorrisos embrulhados nos dedos
Mel nas flores e nas abelhas
E o coração Estrelas com gotas de amor
Como se tudo isto não baste
E a maravilha não me arda na garganta
Como eu esteja em tudo e pense que é só deserto
Este braços grandes da matéria dos lagos
Tenho medo
Como se o cheiro te esconda por detrás
E te diga não com a boca enrolada em névoas
E um corpo nasça do nada
com o sol a querer espreitar.
manuel feliciano
4.19.2011
Páscoa
Pensas que amei essas lágrimas em cachos
A voz abrindo-se no útero das tábuas
As palavras nos ouvidos dourados das folhas
O coração sempre do mesmo lado
E os pregos no lugar dos dedos
As andorinhas ácidas na boca
E o amor de mãe em carne viva
Pensas que fiz uma vénia à múmia do mundo
A latejar de morte
E clamei pela casa desfeita
Num sorriso derrocado
E amei os gestos sem nenhum umbigo
Pensas que exaltei
As coxas da neve
Uma árvore despida
E as moedas de César
A espada que nada sabe da ternura
E os lábios que tudo sabem sobre a espada
Pensas que quis
Toda a brutalidade do homem
A podridão dos seus actos
Toda a alma suja e porca
Neste altar feito de esperança
Íngreme como um luar de Inverno
Quero que saibas ainda hoje que:
Vomito o chão e as suas visceras
Digo à brisa para expurgar o sal
À boca para não saber mais de si
Aos olhos para se envergonharem
Ao corpo para se desfazer nas nuvens
E ao sol que não traga consigo uma cruz
E o teu sangue que seja sempre uma flor a nascer
E a tua dor uma ave que quebre todo o céu rochoso!
manuel feliciano
A voz abrindo-se no útero das tábuas
As palavras nos ouvidos dourados das folhas
O coração sempre do mesmo lado
E os pregos no lugar dos dedos
As andorinhas ácidas na boca
E o amor de mãe em carne viva
Pensas que fiz uma vénia à múmia do mundo
A latejar de morte
E clamei pela casa desfeita
Num sorriso derrocado
E amei os gestos sem nenhum umbigo
Pensas que exaltei
As coxas da neve
Uma árvore despida
E as moedas de César
A espada que nada sabe da ternura
E os lábios que tudo sabem sobre a espada
Pensas que quis
Toda a brutalidade do homem
A podridão dos seus actos
Toda a alma suja e porca
Neste altar feito de esperança
Íngreme como um luar de Inverno
Quero que saibas ainda hoje que:
Vomito o chão e as suas visceras
Digo à brisa para expurgar o sal
À boca para não saber mais de si
Aos olhos para se envergonharem
Ao corpo para se desfazer nas nuvens
E ao sol que não traga consigo uma cruz
E o teu sangue que seja sempre uma flor a nascer
E a tua dor uma ave que quebre todo o céu rochoso!
manuel feliciano
4.18.2011
laivos de liberdade
A liberdade sabe-me a uma mulher cheia de frutos
E quando os toco
os saltos
abundam-me por inteiro na garganta.
E o tronco a desaparecer nos olhos é o sol
E o vestido a elevar-se em estrelas é uma brisa
E a unhas cravadas na carne é o céu
E os morangos esmagados entre os dentes
É um avião pousado na água
E a flor a abrir-se é um grito de ferro
Na popa azul de um navio
A culpa é do mundo
Pediram-me para ser livre lavrando os meus próprio ombros
Desenhando a vênus de cristal com o meu suor
Esculpindo desejos nas pálpebras douradas
Pediram-me para ser libre
Fazendo de conta que ela existe
E o meu corpo é toda uma gaiola aberta
E o meu pensamento é uma dançarina nas nuvens
E a liberdade é só para aqueles que brincam
Ainda com as mãos tenras de pétalas
Em asas desencontradas
E vão sempre em frente como quem se refugia no útero
Iguais a si mesmos
Contra palavras
E vozes
E gestos endurecidos na terra
E pensamentos atados aos cornos de um bói
Mordendo em arados.
Que em nada acendem este luar de Inverno!
manuel feliciano
E quando os toco
os saltos
abundam-me por inteiro na garganta.
E o tronco a desaparecer nos olhos é o sol
E o vestido a elevar-se em estrelas é uma brisa
E a unhas cravadas na carne é o céu
E os morangos esmagados entre os dentes
É um avião pousado na água
E a flor a abrir-se é um grito de ferro
Na popa azul de um navio
A culpa é do mundo
Pediram-me para ser livre lavrando os meus próprio ombros
Desenhando a vênus de cristal com o meu suor
Esculpindo desejos nas pálpebras douradas
Pediram-me para ser libre
Fazendo de conta que ela existe
E o meu corpo é toda uma gaiola aberta
E o meu pensamento é uma dançarina nas nuvens
E a liberdade é só para aqueles que brincam
Ainda com as mãos tenras de pétalas
Em asas desencontradas
E vão sempre em frente como quem se refugia no útero
Iguais a si mesmos
Contra palavras
E vozes
E gestos endurecidos na terra
E pensamentos atados aos cornos de um bói
Mordendo em arados.
Que em nada acendem este luar de Inverno!
manuel feliciano
4.16.2011
Mãe
Quando quieseres dizer que me amas: diz mãe
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acarícia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o ombigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acarícia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o ombigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
4.15.2011
Dias improváveis
Da vida eu não sei nada
Mas este nada é da força das árvores ancestrais
Se as flores não choram
Em mim choraram tudo
Se não sorriem
Em mim sorriram tudo
E a terra meu amor
A terra de que todos temos medo
A terra não nos consome o sorriso
Nem os sonhos
Nem a ternura com que trocamos
Beijos na fonte
E a terra só é fonte e beijos
Um lugar cheio de lugares um não para todo o sim
A vida é o sentir das coisas
A vida dispensa todo o corpo
A vida é sempre que Deus queira
A vida não tem muros que a impeçam
E algemas que a agarrem
Ah maçãs, doces maçãs!
Que morreis para o amor da vida
Na vermelhidão das bocas
Alguém sabe alguma coisa sobre maçãs?
Quando a humidade do sumo procura a língua
E atravessamos todo o rio da eternidade
Alguém as saboreia de facto
E engole a brisa que lambe a ânsia?
Quando serpenteamos lugares com os olhos fechados
E seguimos veredas sem qualquer corpo
No êxtase sagrado dos sentidos
Há uma verdade que nos fala sem boca
E desaguamos nas coisas improváveis
Como se o amor desprenda os ferros
Como se a voz se prolongue
Ai tenho os meus olhos cheios de um grito de luz
De gente cheia de vida
Que a escuridão aborta
A atravessar o dorso da montanha como o sol
E dói
E sabe a dias incontáveis
Ai ânsia do que não morre
É urgente que mos sintas.
manuel feliciano
Mas este nada é da força das árvores ancestrais
Se as flores não choram
Em mim choraram tudo
Se não sorriem
Em mim sorriram tudo
E a terra meu amor
A terra de que todos temos medo
A terra não nos consome o sorriso
Nem os sonhos
Nem a ternura com que trocamos
Beijos na fonte
E a terra só é fonte e beijos
Um lugar cheio de lugares um não para todo o sim
A vida é o sentir das coisas
A vida dispensa todo o corpo
A vida é sempre que Deus queira
A vida não tem muros que a impeçam
E algemas que a agarrem
Ah maçãs, doces maçãs!
Que morreis para o amor da vida
Na vermelhidão das bocas
Alguém sabe alguma coisa sobre maçãs?
Quando a humidade do sumo procura a língua
E atravessamos todo o rio da eternidade
Alguém as saboreia de facto
E engole a brisa que lambe a ânsia?
Quando serpenteamos lugares com os olhos fechados
E seguimos veredas sem qualquer corpo
No êxtase sagrado dos sentidos
Há uma verdade que nos fala sem boca
E desaguamos nas coisas improváveis
Como se o amor desprenda os ferros
Como se a voz se prolongue
Ai tenho os meus olhos cheios de um grito de luz
De gente cheia de vida
Que a escuridão aborta
A atravessar o dorso da montanha como o sol
E dói
E sabe a dias incontáveis
Ai ânsia do que não morre
É urgente que mos sintas.
manuel feliciano
4.13.2011
Ausência em corpo
E quando não te tenho também te tenho
E a tua ausência escorre-me em fetos nos olhos
E não te ter é ter-te duas vezes
E quando não te tenho é amor
Porque as coisas existem dentro e fora
Porque as coisas existem mesmo sem boca
E a brisa tem a propulsão do teu corpo
E o mar o eco do teu olhar
E as minhas mãos são duas árvores cheias de ti
E as minhas lágrimas são palavras que te chamam
E o teu silêncio tem a forma dos teus lábios
Até as águas sentem
Até as aves cantam
Que quando não te tenho também te tenho
Como a chuva a rasgar as pedras
Como o rio ao encontrar o mar.
Manuel feliciano
E a tua ausência escorre-me em fetos nos olhos
E não te ter é ter-te duas vezes
E quando não te tenho é amor
Porque as coisas existem dentro e fora
Porque as coisas existem mesmo sem boca
E a brisa tem a propulsão do teu corpo
E o mar o eco do teu olhar
E as minhas mãos são duas árvores cheias de ti
E as minhas lágrimas são palavras que te chamam
E o teu silêncio tem a forma dos teus lábios
Até as águas sentem
Até as aves cantam
Que quando não te tenho também te tenho
Como a chuva a rasgar as pedras
Como o rio ao encontrar o mar.
Manuel feliciano
Absent in body
And when you've also not got you
And your absence in fetuses runs me in the eye
And do you have is you twice
And when you do not have is love
Because there are things inside and outside
Because things exist even without a mouth
And the breeze is propelling your body
And the sea echo of your eyes
And my hands are full of thee two trees
And my tears are words that call you
And your silence is the shape of your lips
Until the waters feel
Even the birds sing
When you have also not got you
As the rain to rip the stones
As the river to find the sea.
Manuel Feliciano
And your absence in fetuses runs me in the eye
And do you have is you twice
And when you do not have is love
Because there are things inside and outside
Because things exist even without a mouth
And the breeze is propelling your body
And the sea echo of your eyes
And my hands are full of thee two trees
And my tears are words that call you
And your silence is the shape of your lips
Until the waters feel
Even the birds sing
When you have also not got you
As the rain to rip the stones
As the river to find the sea.
Manuel Feliciano
4.12.2011
A sombra do sol
Trago na minha alma
Uma mulher tão magra e húmida
Que me crava enlouquecida os dentes de desejo.
E o meu gemido incendeia o escuro
É a minha dor é um cacho de uvas
E o meu silêncio é carnal e táctil
E eu beijo como quem desenha sem tinta
A estrada que só conhece a pele
Não nos nega nada e a terra é fértil.
Porque os lugares sou eu só que os faço
Porque a ausência é um corpo de astros
E um cheiro que sobeja estrelas.
E como nós dançamos em forma de barcos
E peixes zonzos vagueiam pelo sangue
E os meus olhos doem-me como úlceras
Eu trago-te toda em mim despida
E não ter nada é um orgasmo nas tuas coxas
E não ter nada é um sorriso de boca aberta
E não ter nada é o coração no mundo
E a pobreza em nós é toda chama
E o nosso estômago é um luar cheio de céu.
manuel feliciano
Uma mulher tão magra e húmida
Que me crava enlouquecida os dentes de desejo.
E o meu gemido incendeia o escuro
É a minha dor é um cacho de uvas
E o meu silêncio é carnal e táctil
E eu beijo como quem desenha sem tinta
A estrada que só conhece a pele
Não nos nega nada e a terra é fértil.
Porque os lugares sou eu só que os faço
Porque a ausência é um corpo de astros
E um cheiro que sobeja estrelas.
E como nós dançamos em forma de barcos
E peixes zonzos vagueiam pelo sangue
E os meus olhos doem-me como úlceras
Eu trago-te toda em mim despida
E não ter nada é um orgasmo nas tuas coxas
E não ter nada é um sorriso de boca aberta
E não ter nada é o coração no mundo
E a pobreza em nós é toda chama
E o nosso estômago é um luar cheio de céu.
manuel feliciano
4.11.2011
Mundo
Hoje tu e eu vamos mesmo se há uma chuva de balas
Eu acredito que a canção está mais à frente….
E não é meu amor
Que a minha consciência não me doa
Não é que no meu coração não haja cadeiras de rodas
Camas de hospitais com crianças a chorar
Mas porque há tudo isto
É que eu quero ir contigo mesmo se há uma chuva de balas
A terra tem que me ouvir sem mais espera
O vento tem que deixar escorrer todo o meu pranto
O tempo tem que me abrir toda a luz
Porque eu não tenho mais tempo para escutar as mãos frias
Porque eu não tenho mais tempo para nenhum Deus
Porque eu não tenho mais lugar onde ficar
E eu quero seguir em frente mesmo com os músculos rasgados
Eu quero ir contigo mesmo que me doa
Com a minha consciência em carne lamber o escuro
E plantar o AMOR nas trevas
Eu não quero que sintas que estás só
E para que não sofras eu vou contigo
Como um pássaro bêbado pelo primeiro voo
E alguém ao fundo terá que cantar para nós
E alguém ao fundo terá que nos abraçar
E nos dizer porque diabo é este o mundo
Porque ninguém pode perder o azul que jorra
Porque a vida tão pouco o deixaria.
manuel feliciano
manuel feliciano
Eu acredito que a canção está mais à frente….
E não é meu amor
Que a minha consciência não me doa
Não é que no meu coração não haja cadeiras de rodas
Camas de hospitais com crianças a chorar
Mas porque há tudo isto
É que eu quero ir contigo mesmo se há uma chuva de balas
A terra tem que me ouvir sem mais espera
O vento tem que deixar escorrer todo o meu pranto
O tempo tem que me abrir toda a luz
Porque eu não tenho mais tempo para escutar as mãos frias
Porque eu não tenho mais tempo para nenhum Deus
Porque eu não tenho mais lugar onde ficar
E eu quero seguir em frente mesmo com os músculos rasgados
Eu quero ir contigo mesmo que me doa
Com a minha consciência em carne lamber o escuro
E plantar o AMOR nas trevas
Eu não quero que sintas que estás só
E para que não sofras eu vou contigo
Como um pássaro bêbado pelo primeiro voo
E alguém ao fundo terá que cantar para nós
E alguém ao fundo terá que nos abraçar
E nos dizer porque diabo é este o mundo
Porque ninguém pode perder o azul que jorra
Porque a vida tão pouco o deixaria.
manuel feliciano
manuel feliciano
Imensidão
É de uma luxúria imensa este medo que não assombra
E a vida há-de ser sempre um lugar muito mais além
Não houve mar porque toquei os teus cabelos no fundo
E quando devia ter tocado o sal só vi o sol
As casas vazias
As casas vazias e magras
Cheias de perfume intenso
Do cheiro contínuo da púbis
Do parto prolongado
Da floresta densa cheia de sons
Do ombigo florescendo nos ouvidos
Da flauta ecoando nos punhos secos
A morte é tão verdadeira como eu estar vivo.
Eu sei que estas latas velhas não são tudo.
Nem o mal nem o bem em que giramos
E a vida é um corpo irrespirável
A luz tem uma voz doce e pulmonar
A vida é tão somente quando acordamos
E temos a ideia de que alguém nos abre os braços
Da cor da primavera e da eternidade
E a primavera é o dia em que nascemos de um sono profundo
E a primavera há ser sempre o dia em que vergamos
Outro tempo em que nos imaginamos perfeitos
Em lugares que dispesam a esperança
Para além de pontes falsas e cheias de abismo
Em que eu e tu não acreditamos.
Da mesma forma que não acreditamos ter nascido.
Não vale a pena nenhum choro. Porque até o choro é de uma diemensão divina
De um poesia perfeita, que nos escuta.
E quantas vezes eu choro, porque o meu coração
Me escuta, e eu penso que estou só, mas no limite da curva, prolongo-me
eu tenho a consciência, que os meus fios de cabelos, desmentem todas as descrenças, e agradeço a Deus por ter nascido.
manuel feliciano
E a vida há-de ser sempre um lugar muito mais além
Não houve mar porque toquei os teus cabelos no fundo
E quando devia ter tocado o sal só vi o sol
As casas vazias
As casas vazias e magras
Cheias de perfume intenso
Do cheiro contínuo da púbis
Do parto prolongado
Da floresta densa cheia de sons
Do ombigo florescendo nos ouvidos
Da flauta ecoando nos punhos secos
A morte é tão verdadeira como eu estar vivo.
Eu sei que estas latas velhas não são tudo.
Nem o mal nem o bem em que giramos
E a vida é um corpo irrespirável
A luz tem uma voz doce e pulmonar
A vida é tão somente quando acordamos
E temos a ideia de que alguém nos abre os braços
Da cor da primavera e da eternidade
E a primavera é o dia em que nascemos de um sono profundo
E a primavera há ser sempre o dia em que vergamos
Outro tempo em que nos imaginamos perfeitos
Em lugares que dispesam a esperança
Para além de pontes falsas e cheias de abismo
Em que eu e tu não acreditamos.
Da mesma forma que não acreditamos ter nascido.
Não vale a pena nenhum choro. Porque até o choro é de uma diemensão divina
De um poesia perfeita, que nos escuta.
E quantas vezes eu choro, porque o meu coração
Me escuta, e eu penso que estou só, mas no limite da curva, prolongo-me
eu tenho a consciência, que os meus fios de cabelos, desmentem todas as descrenças, e agradeço a Deus por ter nascido.
manuel feliciano
4.10.2011
Silêncio
O meu estômago está cheio de estrelas
É preciso que as escutes contra as tempestades
Que as engulas antes que chova
Ergue as velas dos olhos no escuro
Como quem vai descalço em espinhos
Porque os olhos são colheres vazias
Vê por dentro sem quaisquer muralhas
Os rostos que pouco ou nada dizem
Vê-las é o menos interessante
Escuta-as com o silêncio das mãos
Na força das raízes que crepitam
Com um grito enrolado no oceano
Como se a tua boca chorasse num parto
Como eu habite todo o teu silêncio.
manuel feliciano
É preciso que as escutes contra as tempestades
Que as engulas antes que chova
Ergue as velas dos olhos no escuro
Como quem vai descalço em espinhos
Porque os olhos são colheres vazias
Vê por dentro sem quaisquer muralhas
Os rostos que pouco ou nada dizem
Vê-las é o menos interessante
Escuta-as com o silêncio das mãos
Na força das raízes que crepitam
Com um grito enrolado no oceano
Como se a tua boca chorasse num parto
Como eu habite todo o teu silêncio.
manuel feliciano
Metade de mim
Não sabes o quanto me custa esta verdade
Mas metade de ti eu já tenho
Os meus olhos andam loucos
Como duas fontes cheias de sede
Se a tua face não vêem
Com a mesma verdade que o trigo
Incendeia a terra
Assim a minha boca to quer escrever
Sem ti tenho o desprazer de ver nas árvores
Uma mera chuva destrutiva
E nos jardins sombras de sonhos
E eu sei que os meus cabelos estão vergados de amor
E como tu aqueces a paisagem
E estrangulas o tempo
E desenhas andorinhas na minha boca
Guarda o meu olhar puro e pobre
E as noites serão perfeitas
Mesmo com a morte
Mas não me dês nada
Diz-me só com os olhos cegos que me amas
E deixa que as minhas pálpebras
Desinchem no teu umbigo
A tumefação das caravelas no mar
Sem gestos que quebrem a tua aura
Também não te canses com as palvras
Deixa só o teu perfume cantar canções
Porque eu tenho medo se não me olhares
De provavelmente nunca ter nascido.
manuel feliciano
Mas metade de ti eu já tenho
Os meus olhos andam loucos
Como duas fontes cheias de sede
Se a tua face não vêem
Com a mesma verdade que o trigo
Incendeia a terra
Assim a minha boca to quer escrever
Sem ti tenho o desprazer de ver nas árvores
Uma mera chuva destrutiva
E nos jardins sombras de sonhos
E eu sei que os meus cabelos estão vergados de amor
E como tu aqueces a paisagem
E estrangulas o tempo
E desenhas andorinhas na minha boca
Guarda o meu olhar puro e pobre
E as noites serão perfeitas
Mesmo com a morte
Mas não me dês nada
Diz-me só com os olhos cegos que me amas
E deixa que as minhas pálpebras
Desinchem no teu umbigo
A tumefação das caravelas no mar
Sem gestos que quebrem a tua aura
Também não te canses com as palvras
Deixa só o teu perfume cantar canções
Porque eu tenho medo se não me olhares
De provavelmente nunca ter nascido.
manuel feliciano
O amor
Meu amor sente de longe o amor comigo
Mas não me queiras dar os teus cabelos
Deixa que eu conte os séculos nos fios
O tempo em que andavamos desnudados
Em que tinhamos fome mas eramos felizes
E nos alimentavamos do cantar das aves
Também por ventura não me dês as mãos
Porque importa-me que elas sejam pássaros
E que levantem sempre quando as toque
Comer-lhe uvas em dias quentes de Verão
E quando o Inverno se apoderar da pele
Deixa que elas sejam o meu próprio fogo
E se o teu sorriso me quiser assaltar a boca
Deixa uma nesga de fora para tomar mais tarde
Senão eu saberei já tanto do campo e das flores
E eu quero-te degustar como pela primeira vez
Em que latejavamos para saber o que era um beijo
E o amor era o desejo de mãos dadas em gestação.
manuel feliciano
Mas não me queiras dar os teus cabelos
Deixa que eu conte os séculos nos fios
O tempo em que andavamos desnudados
Em que tinhamos fome mas eramos felizes
E nos alimentavamos do cantar das aves
Também por ventura não me dês as mãos
Porque importa-me que elas sejam pássaros
E que levantem sempre quando as toque
Comer-lhe uvas em dias quentes de Verão
E quando o Inverno se apoderar da pele
Deixa que elas sejam o meu próprio fogo
E se o teu sorriso me quiser assaltar a boca
Deixa uma nesga de fora para tomar mais tarde
Senão eu saberei já tanto do campo e das flores
E eu quero-te degustar como pela primeira vez
Em que latejavamos para saber o que era um beijo
E o amor era o desejo de mãos dadas em gestação.
manuel feliciano
4.09.2011
Animalidade
Hoje eu quero ser cão e não mais que cão
Se me prometeres que me dás migalhas
Da tua bela boca com as quais te dispo
Nesse teu sorriso de pérolas
Com o conforto de que há tudo
Nas sílabas virgens da pele
Que o estômago vazio sonha
Eu juro que isto é muito mais que o céu
Que o aveludado da comida
E se por ventura
Me quiseres dar as mãos
Eu preferia que mas desses frias
Porque são as frias que têm os barcos
E que esperam comigo lapidar caminhos
Evolar-me numa nuvem cor de rosa
Ver-te dançar alegre nos meus ombros
Corrermos por entre campos tão líquidos
Sentir o orgasmo na flor que não seca
E se por ventura mas quiseres dar quentes
É provável que o teu peito seja um texto cheio
Que não permite os mistérios da minha língua.
manuel feliciano
Se me prometeres que me dás migalhas
Da tua bela boca com as quais te dispo
Nesse teu sorriso de pérolas
Com o conforto de que há tudo
Nas sílabas virgens da pele
Que o estômago vazio sonha
Eu juro que isto é muito mais que o céu
Que o aveludado da comida
E se por ventura
Me quiseres dar as mãos
Eu preferia que mas desses frias
Porque são as frias que têm os barcos
E que esperam comigo lapidar caminhos
Evolar-me numa nuvem cor de rosa
Ver-te dançar alegre nos meus ombros
Corrermos por entre campos tão líquidos
Sentir o orgasmo na flor que não seca
E se por ventura mas quiseres dar quentes
É provável que o teu peito seja um texto cheio
Que não permite os mistérios da minha língua.
manuel feliciano
4.08.2011
A menina da pastelaria
A menina da pastelaria
Que me vendia pasteis
Na seda fresca das manhãs
Perguntava-me a sorrir
Se eu queria o pastel de sempre
E as suas mãos
Eram uma prisão
E os seus olhos
Candelabros por acender
E o seu corpo
A raíz quadrada da flor
Mas no mar
Que lhe trasbordava da boca
Eu e ela
Molhamos as mãos e os pés
Saltamos as pedras
E desatamos lágrimas
Dissemos não
Às árvores de aço
E choramos mel
Nos olhos sôfregos de amor
E eu nunca soube
Quem era a menina
Da pastelaria
Nem tão pouco a vi
No jardim da vida
Senão na farinha
Húmida do meu ser.
manuel feliciano
Que me vendia pasteis
Na seda fresca das manhãs
Perguntava-me a sorrir
Se eu queria o pastel de sempre
E as suas mãos
Eram uma prisão
E os seus olhos
Candelabros por acender
E o seu corpo
A raíz quadrada da flor
Mas no mar
Que lhe trasbordava da boca
Eu e ela
Molhamos as mãos e os pés
Saltamos as pedras
E desatamos lágrimas
Dissemos não
Às árvores de aço
E choramos mel
Nos olhos sôfregos de amor
E eu nunca soube
Quem era a menina
Da pastelaria
Nem tão pouco a vi
No jardim da vida
Senão na farinha
Húmida do meu ser.
manuel feliciano
4.07.2011
Almas gémeas
Eu e o meu pensamento
Somos duas pessoas
Embrionárias de sol
De mãos dadas rua abaixo
E o acto de pensar
É uma faina de gente
E o meu coração
É uma mulher donzela
Lançando-me olhares
Em cada esquina da vida
Na promessa de peixes
Aturdidos num beijo
Perdoem-me todos aqueles
Que são escravos da carne
Os que não se encontram
Na cápsula de si mesmos
Como as coisas ganham
Um trago amargo se as toco
Só os braços ao longe me consolam
Eu que não sei nada da chuva
Depois que a terra com amor a sulca
Quanto menos tenho mais sinto as coisas
Como me assassinas com a saliva nos lábios
Para mim basta-me a ideia de um beijo
Porque a ideia de um beijo é um rio de coisas
E um beijo quando dado é a morte de tudo
Só o impossível me arde e me afaga
E é o único Deus que me transforma o mundo.
Manuel Feliciano
Somos duas pessoas
Embrionárias de sol
De mãos dadas rua abaixo
E o acto de pensar
É uma faina de gente
E o meu coração
É uma mulher donzela
Lançando-me olhares
Em cada esquina da vida
Na promessa de peixes
Aturdidos num beijo
Perdoem-me todos aqueles
Que são escravos da carne
Os que não se encontram
Na cápsula de si mesmos
Como as coisas ganham
Um trago amargo se as toco
Só os braços ao longe me consolam
Eu que não sei nada da chuva
Depois que a terra com amor a sulca
Quanto menos tenho mais sinto as coisas
Como me assassinas com a saliva nos lábios
Para mim basta-me a ideia de um beijo
Porque a ideia de um beijo é um rio de coisas
E um beijo quando dado é a morte de tudo
Só o impossível me arde e me afaga
E é o único Deus que me transforma o mundo.
Manuel Feliciano
3.25.2011
Corpo desfolhado
Se o Outono chegar esta tarde
Eu visto-me com toda a sua nudez
Que me importa o que ele diz
Nos cabelos dourados de árvores
Em frutos no poente dos lábios
Em canoas no sangue da chuva?
Eu não morro com as flores
Habito fora de mim mesmo
E sou tudo o quanto penso
Distância sem qualquer longe
Arado lavrando-te o corpo
Onde o amor espera a palavra
Em folhas que o chão almejam
E a minha alma que não é cadáver.
manuel feliciano
Eu visto-me com toda a sua nudez
Que me importa o que ele diz
Nos cabelos dourados de árvores
Em frutos no poente dos lábios
Em canoas no sangue da chuva?
Eu não morro com as flores
Habito fora de mim mesmo
E sou tudo o quanto penso
Distância sem qualquer longe
Arado lavrando-te o corpo
Onde o amor espera a palavra
Em folhas que o chão almejam
E a minha alma que não é cadáver.
manuel feliciano
Amor desencontrado
Na adolescência eu tive um grande amor
Que vinha comprar rebuçados para nos olharmos
E pelo caminho apanhava figos e não tinha fome
Cortava uvas e não tinha sede
Como uma forma de nos acariciarmos
E porque a voz nos falhava
Quando queriamos dizer amor
As uvas e os figos eram os beijos e as palavras
Que trocamos sem querer
Hoje eu lembro como quem te reencontra
Na loucura de um verão quente
Com as pálpebras bêbedas de sede
A milésimos de cortar a meta
E concordo que um grande amor será sempre
Um jardim desencontrado!
manuel feliciano
Que vinha comprar rebuçados para nos olharmos
E pelo caminho apanhava figos e não tinha fome
Cortava uvas e não tinha sede
Como uma forma de nos acariciarmos
E porque a voz nos falhava
Quando queriamos dizer amor
As uvas e os figos eram os beijos e as palavras
Que trocamos sem querer
Hoje eu lembro como quem te reencontra
Na loucura de um verão quente
Com as pálpebras bêbedas de sede
A milésimos de cortar a meta
E concordo que um grande amor será sempre
Um jardim desencontrado!
manuel feliciano
3.22.2011
Primavera
Quando a primevera chegar eu não estou
Ainda que escreva cartas de amor nos seios
O meu olhar desdobra-se noutro jardim
Na consciência de outra infinitude...
Que não esta que bate em horas solúveis
Que esconde mãos em pétalas que caem
Que não pulsa a boca da fenda da brisa
Nem tão pouco espelha o céu na terra
Enquanto as flores e as aves forem outras
Por cima de um sinal que sempre tarda
Eu vou-me numa outra primavera
Num grito que me mostre outros lugares
Que esta tão imensa cansa por ser breve !
manuel feliciano
Ainda que escreva cartas de amor nos seios
O meu olhar desdobra-se noutro jardim
Na consciência de outra infinitude...
Que não esta que bate em horas solúveis
Que esconde mãos em pétalas que caem
Que não pulsa a boca da fenda da brisa
Nem tão pouco espelha o céu na terra
Enquanto as flores e as aves forem outras
Por cima de um sinal que sempre tarda
Eu vou-me numa outra primavera
Num grito que me mostre outros lugares
Que esta tão imensa cansa por ser breve !
manuel feliciano
3.21.2011
Cansei-me das mãos presas nas algas
Do mar revolto dentro das ancas
Do amor em andorinhas de neve
Do mel em luzes de candeeiros
Do olhar tirano no rubor das rosas…
E ergui as almas nas telhas vermelhas
O sangue do sol na poeira das bocas
Amadureci o céu no colo do húmus
E afoguei a morte dentro das árvores
Entreguei ao nada os que nada sentem.
Para que os olhos se são trapos nos bolsos?
E o coração se é uma folha sem barcos…
Eu que me vi ao espelho e não sei de mim
Estou bebedo de pássaros no lume da água
De pétalas de estrelas no álcool da brisa
Em pontes de névoas num rio de cabelos
Porque os meus olhos são de outra loucura.
Se cada olhar fosse um parto e doesse…
As mãos ausentes provavelmente eram ninhos!
manuel feliciano
Do mar revolto dentro das ancas
Do amor em andorinhas de neve
Do mel em luzes de candeeiros
Do olhar tirano no rubor das rosas…
E ergui as almas nas telhas vermelhas
O sangue do sol na poeira das bocas
Amadureci o céu no colo do húmus
E afoguei a morte dentro das árvores
Entreguei ao nada os que nada sentem.
Para que os olhos se são trapos nos bolsos?
E o coração se é uma folha sem barcos…
Eu que me vi ao espelho e não sei de mim
Estou bebedo de pássaros no lume da água
De pétalas de estrelas no álcool da brisa
Em pontes de névoas num rio de cabelos
Porque os meus olhos são de outra loucura.
Se cada olhar fosse um parto e doesse…
As mãos ausentes provavelmente eram ninhos!
manuel feliciano
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